Por que os três primeiros anos do governo Lula foram para “prender” Bolsonaro?
25/12/2025, 11:46:55Lula ficou entre a obsessão política, o revanchismo institucional e o desvio de prioridades nacionais. E ainda falta a cassação de Moro, pois Deltan Dallagnol já foi
Desde o primeiro dia de seu terceiro mandato, Lula governou com um fantasma sentado à mesa: Jair Bolsonaro. Não o ex-presidente enquanto gestor derrotado nas urnas, mas o inimigo político a ser neutralizado, silenciado e, se possível, encarcerado. O Brasil real — aquele que precisa de crescimento, estabilidade, segurança jurídica e serviços públicos eficientes — ficou em segundo plano. A prioridade número um parecia clara: transformar Bolsonaro no troféu máximo de um projeto de poder que confunde justiça com vingança. Tudo em nome de 2026.
O governo do retrovisor
Em vez de olhar para frente, o governo Lula passou a dirigir olhando pelo retrovisor. Cada discurso, cada gesto, cada movimento institucional foi marcado pela tentativa de reescrever o passado recente, criminalizando não apenas Bolsonaro, mas tudo o que orbitou seu governo. Criou-se uma narrativa única: a de que o Brasil só voltaria à “normalidade” quando o adversário estivesse atrás das grades.
Essa obsessão contaminou a agenda política. Ministérios, Supremo Tribunal Federal, Procuradoria, Polícia Federal e parte expressiva da grande mídia passaram a funcionar em sintonia fina, como se o país estivesse em estado permanente de exceção moral. O discurso da “defesa da democracia” tornou-se o salvo-conduto para atropelar garantias, flexibilizar princípios jurídicos e naturalizar abusos.
Justiça e revanche
Não se trata de defender Bolsonaro — trata-se de defender o Estado de Direito. Quando a máquina pública é orientada por um objetivo político específico, a justiça deixa de ser cega e passa a ter lado. Processos seletivos, investigações intermináveis, vazamentos estratégicos e julgamentos midiáticos viraram rotina. A lei passou a ser elástica: dura para uns, complacente para outros.
O paradoxo é cruel: o mesmo Lula que foi beneficiado por anulações processuais e discursos garantistas agora governa sob aplausos enquanto esses mesmos princípios são relativizados contra seu principal adversário. O garantismo virou artigo de luxo, usado apenas quando convém.
Deixou o Brasil para depois
Enquanto isso, o Brasil real espera. A economia patina, a insegurança cresce, a máquina pública incha, e os problemas estruturais seguem sem solução. Mas nada disso parece urgente quando o projeto central é manter vivo o antagonismo político. Afinal, um inimigo preso rende mais capital político do que um país organizado.
Governar exige grandeza. Exige superar disputas eleitorais e olhar para o futuro. Lula, porém, escolheu governar movido pelo ressentimento. Transformou Bolsonaro no eixo gravitacional de seu mandato, como se sem ele não houvesse narrativa, nem justificativa, nem rumo.
E, por fim, virou protetor de si
Os três primeiros anos do governo Lula não foram dedicados a um projeto nacional robusto, mas à tentativa de liquidar simbolicamente — e juridicamente — um adversário. A história mostrará se o preço dessa obsessão será pago apenas por Lula ou por todo o país.
Porque quando um governo troca o ato de governar pelo desejo de punir, a democracia deixa de ser um valor e passa a ser apenas um discurso conveniente. E discursos, como o Brasil já aprendeu, não enchem prato, não geram emprego e não constroem futuro.