Quando os poderes são ocupados pela soberba e arrogância
23/12/2025, 22:58:15Todo soberbo e arrogante sempre se faz de bomzinho para depois mostrar as armas.
Há um momento na história das instituições em que o poder deixa de servir e passa a se servir. Esse ponto de inflexão não costuma ser marcado por rupturas explícitas, mas por gestos sutis, palavras duras, decisões fechadas em gabinetes e, sobretudo, pela soberba e pela arrogância de quem acredita que o cargo lhe concede superioridade moral, intelectual ou política.
Os poderes constituídos — Executivo, Legislativo e Judiciário — existem para garantir equilíbrio, harmonia e respeito à vontade popular. Quando, porém, seus ocupantes se deixam embriagar pela sensação de autoridade absoluta, o diálogo é substituído pela imposição, o contraditório vira afronta e a crítica passa a ser tratada como inimiga. É o início da degradação institucional.
A soberba faz com que gestores se considerem infalíveis; a arrogância os leva a ignorar a sociedade que deveriam representar. Nesse cenário, o interesse público é rebaixado a detalhe, enquanto vaidades pessoais e disputas de poder assumem o centro do palco. Projetos importantes são engavetados, decisões urgentes são postergadas e a população assiste, impotente, ao espetáculo da prepotência.
Quando os poderes se fecham em si mesmos, o que deveria ser fiscalização vira perseguição, o que deveria ser cooperação transforma-se em guerra, e o que deveria ser democracia degenera em autoritarismo disfarçado de legalidade. A lei, em vez de instrumento de justiça, passa a ser usada como escudo para arbitrariedades ou espada contra adversários.
A história é pródiga em exemplos de que nenhum poder sustentado pela arrogância resiste ao tempo. Governos caem, mandatos se encerram, biografias são manchadas. Já as instituições, quando feridas, levam anos — às vezes décadas — para recuperar a credibilidade perdida.
Por isso, mais do que nunca, é preciso lembrar: poder não é privilégio, é responsabilidade. Quem ocupa cargos públicos deve fazê-lo com humildade, espírito público e respeito aos limites impostos pela Constituição e pela sociedade. A soberba afasta, a arrogância corrói, e ambas, quando se instalam nos poderes, empurram a democracia para a beira do abismo.
No fim, o recado é simples e inexorável: os poderes existem para servir ao povo, não para se colocarem acima dele. Quando esquecem essa verdade, deixam de ser solução e passam a ser parte do problema.