A política dos bastidores retroalimenta as emendas; Lula vai liberá-las
30/11/2025, 09:58:11Após imbróglio com nomeação para o STF, Lula há de liberar emendas em nome da governabilidade. Governabilidade dos cinco homens que mandam no Brasil.
Em nosso país, a engrenagem que move o poder raramente está exposta à luz do dia. Os grandes acordos, as alianças improváveis e os compromissos que selam votações decisivas não acontecem nos plenários ornamentados, mas nos corredores estreitos, nos cafés discretos e nos gabinetes onde poucos entram. É ali, nos bastidores, que a política se reinventa a cada dia — e que as emendas parlamentares encontram seu oxigênio.
As emendas, transformadas ao longo dos anos em moeda de troca institucionalizada, funcionam como o elo mais direto entre o Executivo e o Legislativo. Enquanto os parlamentares as usam para irrigar suas bases eleitorais, o governo as utiliza como ferramenta para consolidar apoio, garantir vitórias e manter a governabilidade. Trata-se de um sistema de retroalimentação: quanto maior a necessidade política, maior a liberação de recursos; quanto maior a liberação, mais cresce a dependência de novos acordos. Nada é gratuito, nada é inocente.
No atual cenário, essa lógica ganha novo capítulo. Diante de pressões por votações importantes, desgaste acumulado e um Congresso cada vez mais autônomo, o presidente Lula sinaliza que vai liberar emendas, retomando a política de acomodação entre poderes que atravessa governos de diferentes matizes ideológicas. Não é novidade — tampouco surpresa. Mas é revelador. Mostra como, independentemente do discurso de “nova política”, o sistema continua operando como sempre funcionou: com cada parte demandando, oferecendo e cedendo exatamente na medida da sobrevivência política.
A liberação de emendas, portanto, não é apenas uma decisão administrativa. É a materialização da política dos bastidores, onde quem grita menos, mas articula mais, costuma sair vencedor. Enquanto isso, a sociedade, que deveria ser a principal beneficiária dos recursos, assiste de longe a um jogo em que prioridades públicas se curvam às urgências políticas. E assim, emendas viram combustível, bastidores viram palco, e o país segue avançando — ou patinando — conforme a dança silenciosa dos acordos de ocasião.