A Constituição Brasileira é traída com políticos do alto escalão septuagenários

Quando a idade pesa menos que a ética — e a República paga a conta. Para os comuns, cinquenta, sessenta anos já impede de contratos com bancos dentre outros. Para os políticos, até presidente pode ser. Depois alegam doenças.

A Constituição Brasileira é traída com políticos do alto escalão septuagenários

A pergunta que ecoa pelos corredores do poder e pelas ruas em indignação é simples, mas profunda: a Constituição Brasileira está sendo traída pela presença de políticos septuagenários em cargos de alto escalão? Não pela idade em si — afinal, envelhecer é um direito humano — mas pela forma como parte dessa elite política usa o tempo acumulado não como sabedoria democrática, e sim como ferramenta de perpetuação.

A Constituição de 1988 não foi construída para ser um enfeite. Ela nasce como pacto, bússola e limite. Porém, quando políticos veteranos, muitos com mais de setenta anos, transformam sua longevidade política em blindagem, a Carta Magna vira papel dobrado em mesa de gabinete. Alguns desses líderes confundem mandato com herança, cadeira pública com patrimônio familiar, leis com obstáculos contornáveis. O problema, portanto, não é ter idade avançada — é usar décadas de poder para corroer o espírito constitucional.

Ao manter estruturas viciadas, velhos caciques atrapalham a renovação política, impedem a alternância real do poder e reproduzem as mesmas práticas que a Constituição pretendeu combater: fisiologismo, clientelismo, abuso de autoridade e manipulação das instituições. A experiência deveria servir para aprimorar a República; o que se vê, muitas vezes, é um uso calculado da idade como escudo moral: "sou experiente", dizem. Mas experiência sem ética é apenas o envelhecimento de velhos vícios.

A traição à Constituição não acontece em um único ato. Ela é silenciosa, cotidiana, e se fortalece quando o país aceita a ideia de que liderança política é privilégio vitalício. Quando septuagenários do alto escalão usam sua trajetória para dobrar instituições, alterar regras conforme interesses pessoais ou proteger aliados, dão continuidade a um modelo que sabota o próprio pacto constitucional. A idade não é o problema — o apego ao poder, sim.

O Brasil só fortalecerá sua democracia quando entender que a Constituição não tem idade, mas tem limites. E quem insiste em ultrapassá-los — seja aos 30, aos 50 ou aos 70 — é quem de fato a trai. E enquanto a República for governada por quem confunde tempo de vida com direito adquirido ao poder, continuaremos envelhecendo como país, mas não amadurecendo.

Creditos: Professor Raul Rodrigues