O imediatismo do hoje como se tudo fosse descartável

Vivemos uma era em que tudo parece urgente, tudo parece curto, tudo parece descartável. O tempo, antes visto como aliado da construção, tornou-se inimigo da paciência. O imediatismo — essa pressa coletiva sem direção — transformou comportamentos, relacionamentos, decisões e até valores. Estamos tão habituados à lógica do “agora” que perdemos a capacidade de reconhecer a importância do “durante”, o processo que molda, aperfeiçoa e amadurece.

No ritmo acelerado das redes sociais, a vida se mede em segundos: um vídeo de quinze, uma resposta em cinco, uma emoção que dura um piscar. É como se o mundo tivesse virado um grande copo descartável — usamos, consumimos e jogamos fora para buscar outra coisa que satisfaça rapidamente. Essa cultura do descarte não afeta apenas objetos; afeta pessoas. Amizades são substituídas por conveniência, relacionamentos por falta de paciência, e até reputações se desfazem com a mesma velocidade de um clique.

O perigo desse imediatismo é que ele rouba de nós a compreensão do valor real das coisas. Nada profundo nasce instantâneo. Carreira, caráter, confiança, respeito — tudo isso exige tempo, exige erros, exige reconstrução. Mas o mundo apressado tenta nos convencer de que o que não funciona de primeira não serve. E essa lógica perversa desmonta projetos, mina sonhos e enfraquece vínculos que poderiam ser sólidos se não fossem descartados antes de amadurecer.

Resgatar o valor da espera é quase um ato de rebeldia. É remar contra a maré do “quero agora”, do “preciso já”, do “não deu certo, troco por outro”. É perceber que o que tem profundidade resiste ao tempo, enquanto o que nasce para ser descartável se desfaz na primeira dificuldade. O desafio do nosso tempo é reaprender que o essencial não se constrói com ansiedade, mas com permanência. E que nenhuma pressa do mundo vale mais do que aquilo que só o tempo — e não o imediatismo — é capaz de edificar.