Com municípios alagoanos loteados: a disputa pelo governo e pelo Senado é previsível
21/11/2025, 07:21:29Com duas vagas para o senado, e, os efeitos das emendas parlamentares em ação, apenas uma vaga está em questão
A política alagoana, como sempre, segue um roteiro que mais parece novela repetida: basta o calendário eleitoral dar o primeiro sinal de vida para que os municípios virem tabuleiros, prefeitos se tornem peças de barganha e lideranças passem a medir força como se estivessem em um leilão de influências. Nada disso é novidade. O loteamento político dos municípios de Alagoas é tão previsível quanto o calor de fevereiro ou as promessas de campanha em ano ímpar.
O que está em curso é uma disputa de longo prazo — governo e Senado — sendo travada em curto prazo: dentro das prefeituras, gabinetes e articulações subterrâneas. Cada liderança maior quer garantir que, no momento decisivo, terá prefeitos, vereadores e máquinas municipais alinhados. E para isso vale de tudo: obras apressadas, convênios relâmpagos, emissários enviados ao interior e até reaproximações com antigos adversários. Quem já conhece o jogo sabe: é agora que se define a temperatura da eleição que só acontece daqui a dois anos.
Nos últimos meses, o comportamento das principais figuras da política estadual deixa claro que a disputa estará polarizada não apenas por nomes, mas por territórios. Prefeituras tornaram-se moedas valiosas. Cada uma delas representa votos organizados, articulações instantâneas e, sobretudo, visibilidade regional. Por isso, vê-se um cerco silencioso sobre municípios estratégicos — alguns por densidade populacional, outros por simbolismo, outros por serem porta de entrada para microrregiões inteiras.
Nesse cenário, prefeitos viram troféus. Quem os conquista, exibe. Quem os perde, corre para recuperar. E nesse vai e vem, os municípios passam a ser, mais uma vez, tratados como propriedades políticas e não como espaços de gestão pública. Perdem os cidadãos, ganham os caciques.
A previsibilidade é tamanha que já se pode apontar o enredo: alianças de ocasião, supostos rompimentos coreografados, discursos de independência que duram até o próximo jantar e aquele velho loteamento que sempre se renova sob outra embalagem. Quando governo e Senado entram na mesma linha de disputa, o jogo ganha ainda mais peso — e mais interferência externa nos municípios.
Alagoas vive um momento em que a política se tornou um mosaico de feudos. E enquanto os municípios são repartidos como se fossem território sem dono, a população segue esperando por soluções, não por padrinhos. A disputa é legítima — faz parte do processo democrático —, mas o método, infelizmente, continua arcaico.
O futuro político do estado será decidido, de novo, no interior. E essa briga por controle municipal, embora previsível, revela um problema maior: a velha cultura de tratar cidades como peças de um tabuleiro, e não como comunidades com voz própria.
Previsível? Sim. Inegável? Também. Mas aceitável? Essa é a pergunta que Alagoas ainda não aprendeu a responder.