A GANGORRA POLÍTICA QUE LULA SENTOU APÓS A AÇÃO POLICIAL NO RJ
21/11/2025, 07:10:24Entre críticas, pressões e narrativas, Lula tenta manter equilíbrio em um tabuleiro onde qualquer operação policial vira arma política.
Quando a política resolve brincar de física, o resultado quase sempre lembra uma gangorra instável: sobe um lado, desce o outro, e quem está sentado no centro tenta fingir que controla o movimento. Foi exatamente nessa estrutura oscilante que o presidente Lula se acomodou após a mais recente ação policial no Rio de Janeiro — uma operação que reacendeu velhas chamas, provocou ruídos previsíveis e reposicionou atores que, há muito, esperavam apenas o primeiro estalo para voltar ao palco.
A ação, mesmo necessária sob o ponto de vista da segurança pública, trouxe à tona uma verdade incômoda: qualquer movimento no RJ, especialmente quando envolve polícia, forças federais ou territórios dominados pelo crime organizado, rapidamente se transforma em combustível político. Não importa o objetivo, importa quem “capitaliza”. E Lula, ao tentar manter distância prudente, terminou sentado na extremidade da gangorra.
De um lado, ergueram-se seus críticos — sempre atentos, sempre preparados para transformar qualquer operação em narrativa de descontrole, fraqueza institucional ou leniência federal. Para esse grupo, bastou a sirene tocar para apontar o dedo. O discurso é simples: “se foi tarde, é omisso; se foi cedo, é irresponsável; se deu errado, é incompetente; se deu certo, foi por acaso”. Lula, como qualquer presidente, vira o alvo preferido, porque a culpa, no Brasil, sempre sobe a rampa.
De outro lado, desceu o peso dos aliados acomodados, aqueles que esperam do governo central uma postura quase cirúrgica em temas sensíveis. Eles sabem que a criminalidade no Rio é um labirinto que mistura décadas de abandono estatal, corrupção crônica, milícias empoderadas e facções que operam como empresas. Porém, esperam reações políticas tão rápidas quanto os tiros que ecoam nas vielas. E quando a resposta não é teatral o suficiente, a pressão aumenta.
A gangorra se desequilibra mais porque Lula tenta se colocar como estadista — aquele que fala em reconstrução institucional, combate às raízes da violência e fortalecimento das polícias. Mas o Brasil, acostumado a soluções espetaculares, cobra pirotecnia. Só que pirotecnia não resolve o Rio. E silêncio, embora prudente, é visto como fraqueza.
O fato é que qualquer ação policial de grande impacto no RJ vira, automaticamente, um teste para o governo federal. E Lula, sentado no centro dessa gangorra, tenta controlar as forças opostas com discursos de equilíbrio, enquanto a opinião pública balança ao sabor de vídeos de helicópteros, sirenes e manchetes apressadas.
No fim, a instabilidade não é apenas dele — é do país que ainda acredita que o Rio de Janeiro pode ser reorganizado com operações pontuais, ignorando que ali a disputa não é somente territorial, mas política, econômica e simbólica. A gangorra vai continuar oscilando, e Lula precisará mais do que equilíbrio: precisará força para ditar o ritmo da brincadeira antes que alguém tente empurrar a gangorra para tombar.
Porque, na política brasileira, ninguém quer ficar sozinho no chão — mas todos querem ver quem é o próximo a cair.