Se Penedo voltasse no tempo: entre o ontem da memória e o hoje da pressa
09/11/2025, 07:30:19Um olhar sobre o que se perdeu, o que mudou e o que ainda resiste na cidade ribeirinha
Se Penedo voltasse no tempo, talvez a serenidade do seu cotidiano não se confundisse tanto com o barulho das urgências modernas. As ladeiras ainda ecoariam o som dos passos lentos de quem vivia sem a pressa do celular, e o cheiro do rio São Francisco seria mais que um cenário — seria um companheiro de vida.
Havia um tempo em que Penedo respirava história em cada esquina. O casario colonial não era apenas arquitetura: era testemunho silencioso de uma cidade que soube ser capital da cultura e do comércio, ponto de encontro entre a fé, a arte e a política. O coreto da Praça Jácome Calheiros, por exemplo, era palco de conversas, serestas e amores infantis. Hoje, as conversas são apressadas, as músicas vêm de caixas de som e o amor parece ter se mudado para as redes sociais.
No tempo antigo, o rio era estrada. Por ele chegavam notícias, mercadorias e esperanças. Hoje, o mesmo rio parece observar em silêncio o afastamento de quem o esqueceu. O São Francisco — outrora pai, guia e alimento — virou pano de fundo para fotografias, enquanto suas águas diminuem e sua importância desaparece na rotina de uma cidade que parece ter se esquecido de onde veio.
E quanto à política, talvez o passado tenha sido menos disfarçado. Penedo já teve líderes que, com suas falhas e virtudes, enxergavam a cidade como um lar, não como um palco de vaidades de um clã. Hoje, o discurso é marketing, e o compromisso virou slogan. A beleza das palavras substituiu a firmeza das ações concretas.
No comércio, antes havia o gesto humano, o fiado de confiança, o bom-dia sincero. Hoje há maquininhas e olhares distraídos. A pressa trocou o nome e o rosto das relações. Ainda assim, nas feiras, nas quitandas e nos bancos de praça, points da política há quem mantenha acesa a chama da convivência antiga — o jeito penedense de acolher e conversar.
Se Penedo voltasse no tempo, talvez se olhasse no espelho e se reconhecesse mais. Encontraria nos olhos dos seus antigos moradores um senso de pertencimento que o progresso dos dias atuais conseguiu devolver. O ontem mais próximo de Penedo não era perfeito, e não tinha alma. O hoje tem estrutura e cresce no sentimento de pertencimento.
Talvez o desafio seja este: não desejar o retorno literal ao passado, mas resgatar dos antigos o que fazia da cidade um espaço de vida, não apenas de passagem. Porque o tempo avança, mas a história, quando respeitada, sempre sabe voltar.
Penedo não precisa de uma máquina do tempo. Precisa apenas lembrar-se de si mesma — de que o seu maior patrimônio é o que o turismo exibe e o que a memória guarda. O futuro será melhor quando o passado não deixar de ser esquecido.