Lula e a Viagem à Colômbia em Meio à COP30
09/11/2025, 13:02:46Um Momento Crucial
Em meio à COP30, aguardada como um momento da afirmação do Brasil, Lula vai à Colômbia para tratar dos problemas de seu amigo Maduro. Foi mais ou menos como se o pai da noiva deixasse a festa do casamento da filha, que ele planejou com esmero para ser um momento marcante, para dar o ar de sua graça em um pagode barulhento e improvisado na casa do vizinho arruaceiro. Na quinta-feira passada, o chanceler Mauro Vieira anunciou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste final de semana, estará fora do Brasil justamente no momento em que o país deveria estar no centro das atenções do mundo, como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas — a COP30.
Decisões Questionáveis
Ao invés de cumprir o compromisso que estava previsto e viajar para o arquipélago de Fernando de Noronha, onde deveria inaugurar o novo sistema de energia solar, que substituirá os geradores a diesel que forneciam eletricidade suja para o “paraíso ecológico”, o presidente resolveu ir até a Colômbia. O objetivo da viagem extemporânea é participar, na cidade de Santa Marta, da reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) com a União Europeia. É um encontro tradicional, que acontece pela quarta vez e é destinado a fortalecer o diálogo da América Latina com a União Europeia. Mas a presença de Lula nada tem a ver com esse assunto. O objetivo da ida do presidente, conforme Vieira se esforçou para explicar, é demonstrar “apoio e solidariedade regional à Venezuela”. Isso mesmo. Num momento em que deveria estar com as atenções 100% voltadas para o Brasil, Lula resolve hipotecar solidariedade a Nicolás Maduro.
Críticas à Escolha de Lula
Lula jamais escondeu as críticas de seu governo ao cerco dos Estados Unidos contra o ditador da Venezuela. Acusado de liderar o Cátel de los Soles — poderosa organização narcoterrorista comandada pelo alto escalão do governo venezuelano —, Maduro, que até pouco tempo atrás queria anexar pela força metade da vizinha Guiana a seu território, se converteu em pacifista convicto. Esse milagre aconteceu depois que o presidente Donald Trump deslocou alguns dos navios mais poderosos de sua frota para vasculhar o mar do Caribe e atacar as embarcações que cruzam o mar do Caribe levando drogas venezuelanas para os Estados Unidos.
Lula sempre deixou clara sua posição a respeito desse tema. Conforme seu próprio relato, disse o que pensa ao próprio Trump, no encontro que tiveram dias atrás em Kuala Lumpur, na Malásia. De acordo com Lula, a América do Sul é uma região pacífica e assim deve permanecer. “Somos uma zona de paz, não precisamos de guerra aqui. O problema que existe na Venezuela é um problema político que deve ser resolvido na política”, disse Lula a jornalistas estrangeiros na quarta-feira passada, um dia antes da Cúpula de Líderes, que antecedeu os trabalhos da COP30 em Belém.
Desatenção à Pouca Comitiva
O encontro era, sem dúvida, uma oportunidade e tanto que estava ao alcance de Lula para mostrar ao mundo as diferenças do Brasil em relação ao vizinho encrenqueiro. Tudo foi programado para que o presidente ocupasse durante os dias da Cúpula, o centro das atenções. Diante de uma plateia formada por cerca de 40 presidentes, primeiros-ministros, monarcas, vice-presidentes, vice-primeiros-ministros, Lula deu o recado que dele se esperava. O encontro teve como temas a segurança ambiental do planeta e a passagem da fase do diagnóstico e das propostas de políticas ambientais para o momento das ações afirmativas, capazes de conter as emissões de carbono e de outros gases responsáveis pelo efeito estufa.
Consequências da Viagem
Mesmo esvaziado pela ausência dos líderes dos quatro maiores poluidores do mundo — que são, pela ordem, a China de Xi Jinping, os Estados Unidos de Donald Trump, a Índia de Nanendra Modi, e a Rússia, de Vladimir Putin —, o encontro tinha tudo para ser o assunto da semana. O recado dado por Lula não poderia ter sido mais claro: o Brasil não apenas quer como tem condições de liderar a transição energética e os esforços em busca de uma economia sustentável e menos agressiva ao meio ambiente. Acontece, porém, que o anúncio da viagem à Colômbia soou como se a diplomacia brasileira tivesse decidido misturar alhos com bugalhos num momento em que as atenções deveriam estar fixas na afirmação das indiscutíveis potencialidades do país como potência energética global.
Lula preferiu apoiar Maduro do que assumir a liderança da causa ambiental. No que diz respeito aos benefícios que pode gerar para o país, convenhamos, a escolha não parece ter sido a mais feliz.
Reunião Sem Efeito Prático
O encontro da CELAC não servirá para nada além de uma tentativa de lançar uma boia de salvação para o companheiro Maduro. Uma tentativa de defender alguém que não passa, como o mundo inteiro sabe, de um caudilho da pior espécie. Por razões como essa, a reunião na Colômbia se reduzirá a uma assembleia de chefes da esquerda latino-americana dispostos a responsabilizar os Estados Unidos por tudo de ruim que acontece na região.
O Que Esperar do Futuro?
Pois bem... Preferir estar ao lado de gente como Petro neste momento em que ganharia mais se tivesse permanecido em Belém, que será a capital temporária do Brasil durante a COP30, dedicando atenção exclusiva à agenda positiva proporcionada pela pauta climática, foi uma péssima escolha. Além de nada trazer de positivo para a imagem do Brasil, a ida à Colômbia pode dificultar o trabalho que as empresas e o próprio governo do Brasil vêm fazendo para conquistar a credibilidade e o respeito que o ajudaria o país a se firmar como potência energética.
Por trás da decisão de ir a Santa Marta, pelo que se comenta nos bastidores do Itamaraty, está o peso da influência que o assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, exerce sobre o presidente. O problema é que ao dar apoio a líderes questionados, Lula pode estar comprometendo os esforços do Brasil em manter uma boa relação com os Estados Unidos e a credibilidade em questões ambientais.
Ou seja, ao apoiar Maduro, o presidente pode estar minando o caminho do Brasil na busca de uma liderança sustentável e respeitável no cenário internacional.