Trump confirma plano secreto de invasão na Venezuela
18/10/2025, 22:31:33Por Matheus Pichonelli
Deu no “The New York Times”. E Donald Trump não fez nem esforço para desmentir. Horas após o diário revelar o aval do presidente dos Estados Unidos para a CIA, a agência de inteligência (leia-se espionagem) norte-americana, promover ações secretas e letais na Venezuela, com o objetivo de derrubar Nicolás Maduro, o republicano foi a público dizer que sim, fez mesmo, e daí, não se envergonha, e seguirá fazendo.
Deve ser o primeiro caso na História em que uma ação secreta é confirmada em entrevista coletiva. Trump ofereceu uma desculpa meio esfarrapada para a operação. Duas, aliás. Uma era a alegação de que autoridades venezuelanas esvaziaram prisões e instituições psiquiátricas para enviar os apenados e pacientes aos Estados Unidos. Uma conversa tipo a do Homem do Saco ou da Loira do Banheiro versão global, mas vinda da boca de um chefe de Estado parece real.
A outra justificativa é que “temos muitas drogas chegando da Venezuela” pelo mar, e que é preciso deter essa movimentação também por terra. Era a senha para uma invasão clássica, terrestre – que, esta sim, não seria lenda urbana ou mero blefe.
Antes da ameaça, Trump promoveu a maior mobilização de tropas na América Latina das últimas três décadas. São cerca de 10 mil soldados hoje posicionados em países como Porto Rico e Trinidad e Tobago esperando a hora de agir. Ociosos não estão. Na véspera, o presidente dos Estados Unidos anunciou a morte de 11 pessoas em um ataque a uma embarcação perto da costa da Venezuela. Ele disse que a embarcação traficava drogas. Cadê? Não sabemos. O outro lado não temos porque seus representantes estão mortos.
Mais um passo e ações do tipo podem acontecer a qualquer momento no território venezuelano, o que já leva tensão e instabilidade em toda a região. Inclusive Brasília. Trump, vale lembrar, planeja instalar uma base de combate ao tráfico no Paraguai, país aliado, numa região próxima à fronteira com o Brasil, em Foz do Iguaçu. Se amanhã ele resolver declarar que o Brasil é um país de narcoterroristas porque abriga o Primeiro Comando da Capital, ações do tipo poderão ser vistas por aqui. Alguém duvida?
Maduro declarou, já na quarta-feira (15), que não quer guerra com ninguém. Parecia diferente dos tempos em que estufava o peito para dizer que ali em seu território estatunidense não se criava. Sabe que está com a cabeça a prêmio, como um dia já esteve a de outros autocratas declarados inimigos pelos Estados Unidos. Saddam Hussein era um deles. No início dos anos 2000, Washington declarou guerra ao Iraque sob a justificativa de que o país produzia e armazenava armas nucleares. A guerra destruiu a nação inimiga e Saddam foi condenado à pena de morte. Até hoje ninguém sabe, ninguém viu, o tal arsenal.
Num caso como no outro, não é a paz e a estabilidade que os Estados Unidos buscam por meio de armas. Se ambas as nações produzissem beterrabas, seus líderes estariam vivos. Se facilitassem a vida da maior potência econômica do Planeta, também. O que não falta pelo mundo são autocratas aliados a Washington livres, leves e soltos para perseguir conterrâneos, desde que o interesse norte-americano esteja preservado. O petróleo, por um grande acaso, é sempre o bem mais precioso em todos esses lugares.
Em suas primeiras entrevistas após ser premiada com o Nobel da Paz, na semana passada, a ativista venezuelana Maria Corina Machado, opositora do governo Maduro, pediu ajuda a Trump para tirar Maduro do poder. Isso pode envolver uma guerra. Apoiada por uma detentora do Nobel da Paz. Que foi dedicado a Trump. Que mobiliza tropas no Caribe. Nada é por acaso. Tudo o que Trump quer na região é neutralizar lideranças hostis e conter a influência da China – que não levou 24 horas para condenar o ataque à embarcação venezuelana.
Como nos tempos da guerra fria, pequenos conflitos (e tensões) pipocam aqui e ali sob um pano de fundo mais amplo. Trump tem subido o tom contra os chineses na guerra comercial. Pode até ser que alivie para o Brasil na questão das tarifas. Mas seguiremos no meio do tiroteio. Isso se não virarmos um alvo nos próximos capítulos.
Uso da força, interferência externa e ataques à soberania, venham de onde vier, precisam sempre ser condenados. Mesmo por quem acredita em histórias de vilões e mocinhos.