O politismo nos institutos de pesquisas no Brasil
18/10/2025, 17:10:52Quando a política perde a essência pública e se torna profissão de interesses privados.
Nos últimos tempos, as pesquisas eleitorais deixaram de ser apenas um termômetro da vontade popular e passaram a se comportar como um poderoso agente político. A cada eleição, o eleitor brasileiro é bombardeado por números, gráficos e percentuais que, muitas vezes, mais confundem do que informam. O que antes era um retrato técnico da opinião pública, hoje parece um retrato pintado sob encomenda — com cores escolhidas de acordo com os interesses de quem paga o quadro.
O chamado politismo dos institutos de pesquisa é a face moderna da velha influência política travestida de ciência. Quando um instituto “erra” por larga margem e sempre em favor de determinado grupo, deixa de ser coincidência e passa a ser estratégia. A manipulação é sutil: inflar um candidato nas pesquisas não garante sua vitória, mas pode gerar a sensação de favoritismo, enfraquecer adversários e induzir eleitores indecisos a “votar em quem vai ganhar”. É o voto útil fabricado, não pela consciência política, mas pelo cálculo psicológico.
O eleitor, acostumado à enxurrada de informações, acaba muitas vezes rendido à ilusão estatística. E os veículos de comunicação, que deveriam atuar como filtros éticos, tornam-se amplificadores dessas tendências, dando mais destaque ao número do que ao conteúdo, à curva ascendente do que à coerência das propostas. Assim, a disputa eleitoral se converte em uma guerra de narrativas matemáticas, onde o que menos importa é a verdade.
O problema é que esse politismo disfarçado de técnica mina a credibilidade das pesquisas sérias e reforça o ceticismo popular. Quando as urnas se abrem e a realidade desmente os números divulgados com tanta segurança, o eleitor sente-se enganado — e com razão. O resultado é uma sociedade desconfiada, que passa a ver manipulação em tudo, inclusive onde há honestidade.
É urgente resgatar a seriedade dos institutos de pesquisa e exigir transparência nos métodos, nas amostras e nas fontes de financiamento. A pesquisa eleitoral é uma ferramenta legítima, mas precisa estar a serviço da democracia, e não dos arranjos políticos.
Porque quando a estatística toma partido, a verdade é a primeira a perder — e, logo em seguida, perde o povo.