Brasil: vítima ou consorte do congressismo?
18/10/2025, 16:24:15Entre a chantagem parlamentar e o voto conivente, o país oscila entre ser refém do sistema ou cúmplice dele, mantendo viva uma política de trocas em vez de princípios.
Há uma velha máxima na política brasileira que diz: “O Brasil não é ingovernável; ele é mal negociado.” E talvez aí esteja o cerne da questão quando se pergunta se o país é vítima ou consorte do chamado congressismo — esse sistema de trocas, acomodações e chantagens travestido de governabilidade.
O congressismo não é uma invenção recente. Ele é herança direta da forma como se construiu o poder no Brasil: uma democracia de acordos, não de princípios. Desde o Império, o Parlamento aprendeu a ser o fiel da balança, mas também o principal cobrador de pedágios políticos. No presidencialismo de coalizão, o Executivo virou refém das bancadas que sustentam (ou derrubam) governos conforme o peso dos ministérios e das verbas liberadas.
Dizer que o Brasil é vítima do congressismo é reconhecer que o país inteiro paga o preço desse modelo. Projetos essenciais emperram, reformas morrem sufocadas, e a ética vira moeda de troca em plenário. Cada votação se transforma num balcão, e o interesse público, numa mercadoria perecível.
Mas há também quem diga que o Brasil é consorte do congressismo. Afinal, o eleitor que critica o sistema é o mesmo que elege os seus representantes — muitas vezes pelos favores pessoais, pela proximidade regional ou por laços de conveniência. O povo, nesse sentido, não é apenas refém: é cúmplice silencioso de um modelo que alimenta.
O grande drama é que o congressismo não se sustenta apenas em Brasília; ele se reproduz nos estados, nas câmaras municipais, nas pequenas alianças de ocasião. É o retrato da política feita como negócio — onde o verbo negociar substitui o verbo servir.
Enquanto o país seguir confundindo maioria com moralidade, e barganha com diálogo, continuará oscilando entre o papel de vítima e o de consorte. O Brasil precisa decidir: quer ser governado por ideias ou por interesses? Porque, enquanto permanecer casado com o congressismo, será um matrimônio de conveniência — com o povo sempre pagando a conta da festa.