Amazônia se aproxima do ponto de não retorno crítico
17/09/2025, 00:30:46A Amazônia se aproxima da faixa que a ciência prevê como possível ponto de não retorno do bioma. Segundo o MapBiomas, entre 1985 e 2024 a floresta perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa. Essa perda representa cerca de 13% dos 421 milhões de hectares da Amazônia, que ocupa 49,5% do território brasileiro. Segundo uma especialista ouvida pelo iG, atingir o ponto de não retorno é extremamente preocupante, com impactos que ultrapassam as fronteiras da Amazônia Legal.
O que é o ponto de não retorno?
A Amazônia é o maior bioma do país, e a redução gradual de sua vegetação nativa aproxima a floresta da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma. Em entrevista ao Portal iG, a bióloga Patrícia Farias de Souza, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre e doutoranda em Dinâmica dos Oceanos e da Terra, explicou o que caracteriza esse limite crítico. "O ponto de não retorno de um bioma é o momento em que a degradação ambiental ultrapassa a capacidade natural de regeneração do ecossistema. A partir deste ponto, ele passa por mudanças irreversíveis, perdendo suas características originais", explica.
Segundo a bióloga, no caso da Amazônia, se o desmatamento atingir um limite crítico, grandes áreas podem se transformar em savana, afetando o clima, a biodiversidade e os serviços ambientais essenciais. "O desmatamento, as queimadas, o avanço das fronteiras agrícolas, a mineração, os efeitos das mudanças climáticas como aumento da temperatura e alteração no regime de chuvas, são os principais fatores que pressionam o equilíbrio da floresta."
Segundo a bióloga, caso a Amazônia chegue a ultrapassar esse limite, a floresta perderia sua capacidade de manter o ciclo de chuvas, o que afetaria a agricultura, a disponibilidade de água e o clima em escala continental. "Além disso, haveria uma perda massiva de biodiversidade e a liberação de grandes quantidades de carbono, agravando o aquecimento global", relata.
Perda de vegetação na Amazônia
De acordo com o levantamento do MapBiomas, feito a partir de imagens de satélite, nos últimos 40 anos as formações florestais da Amazônia perderam quase 50 milhões de hectares. Em 2024, o estudo demonstrou que a vegetação nativa cobria 81,9% do bioma, enquanto 15,3% eram ocupados por uso antrópico, ou seja, o território foi alterado por atividade humana. Os dados também mostram que a antropização da Amazônia ocorreu de forma acelerada e em um curto período de tempo: 83% das áreas ocupadas pelo homem surgiram entre 1985 e 2024.
Entre os usos antrópicos, a pastagem foi o que mais se expandiu, passando de 12,3 milhões de hectares em 1985 para 56,1 milhões de hectares em 2024. A agricultura cresceu 44 vezes, passando de 180 mil hectares em 1985, para 7,9 milhões de hectares em 2024. Em termos percentuais, a silvicultura se destacou, passando de 3,2 mil hectares em 1985 para 352 mil hectares em 2024, um aumento de mais de 110 vezes em 40 anos. O estudo ainda destacou que a mineração vem crescendo na região, passando de 26 mil hectares em 1985 para 444 mil hectares em 2024.