Derrota de Milei em Buenos Aires e seu plano econômico
10/09/2025, 09:05:41Derrota de Milei em Buenos Aires testa plano econômico inesperado
A leitura inicial do resultado da eleição regional na Província de Buenos Aires, a maior parte do território e do eleitorado do país, mostra que a derrota de Milei projeta sombras sobre as conquistas do seu plano de ajuste econômico e acende as atenções para o pleito nacional de 26 de outubro. Sem uma base forte no Congresso, a aprovação de reformas que permitam ao Estado encaixar-se no Orçamento pode se tornar mais difícil, reacendendo dúvidas sobre a continuidade do pacote de medidas que ele vende como essência de seu projeto econômico.
Contexto político e impacto no Congresso
Para Milei, o resultado das urnas na província em que residem as maiores estruturas administrativas do país representa o maior teste desde a implementação de seu programa. A derrota evidencia que, embora tenha obtido avanços em alguns indicadores macroeconômicos e legais para dificultar greves e demissões, manter o ímpeto de reformas depende do apoio no Congresso. A eleição de outubro, com renovação de metade da Câmara e um terço do Senado, é apontada como decisiva para consolidar ou constranger a agenda de Milei.Especialistas observam que, com o resultado adverso, o governo pode enfrentar resistência de forças que disputam espaço no legislativo, o que torna ainda mais crítico o pleito de outubro. A leitura é de que Milei precisa ampliar a base de apoios ou, ao menos, evitar nova ampliação da oposição, para que o ajuste continue a ter continuidade e para que o governo possa continuar defendendo seu programa de desregulamentação e cortes de despesas.
Resultados regionais e o peso econômico
Entre os números apresentados, o ajuste fiscal implementado no período recente é descrito como brutal, com cortes de despesas estimados em mais de 30%. Observadores destacam que, paralelamente, a inflação anualizada caiu de mais de 200% para cerca de 36%, com projeções para encerrar 2025 em 28%, de acordo com as análises de analistas. Além disso, a economia voltou a crescer, com estimativas sugerindo crescimento do PIB neste ano acima de 5%. Esses desdobramentos são apresentados como parte das mudanças profundas promovidas pela administração de Milei, que também alterou leis para dificultar greves, reduzir entraves à demissão de funcionários e desregulamentar vários setores.No setor imobiliário, a retirada de limites para aumentos de aluguel resultou em mudanças de mercado: a oferta de imóveis aumentou em torno de 195% e os aluguéis recuaram aproximadamente 10%. Esses números ilustram a intensidade do choque regulatório e suas consequências para arrendatários, proprietários e o balanço do setor.
Assistência externa e contestações de corrupção
Foi vital, para o êxito da política econômica, a abertura, em abril, de uma linha de socorro de US$ 20 bilhões junto ao Fundo Monetário Internacional. O apoio internacional também contou com a visita do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, enviado por Donald Trump para reforçar o apoio ao governo de Milei. Contudo, tais apoios não impediram o surgimento de escândalos que passaram a marcar a gestão.Em 14 de fevereiro, Milei foi às redes sociais para promover uma criptomoeda, e a cotação subiu rapidamente, produzindo lucros para um pequeno grupo de investidores. Há suspeitas de envolvimento da irmã do presidente, Karina Milei, que também atua como secretária-geral da Presidência. Em momentos recentes, áudios de Diego Spagnuolo, ex-diretor da Agência Nacional de Deficiência (Andis), revelaram que compras de medicamentos e equipamentos pagavam propina, estimada em 8%, sendo 3% destinados a Karina. O conjunto de informações alimenta uma narrativa de dificuldades para o governo, que precisa administrar as tensões entre resultados econômicos positivos e as dúvidas sobre ética na gestão pública.
"Milei perdeu oportunidade histórica de deixar para trás o peronismo", afirma o economista Fabio Giambiagi, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O economista reconhece que o risco é que, em vez de consolidar reformas no funcionamento do Estado, o governo possa ver o Peronismo conquistando espaço para promover retrocessos nas conquistas já obtidas. Essa avaliação eleva a importância das eleições de outubro, que podem redefinir o alinhamento político e econômico do país, influenciando também o cenário regional e, segundo muitos analistas, não é do interesse do Brasil nem do mundo uma Argentina novamente em convulsão.
Perspectivas para outubro e implicações regionais
O pleito nacional, marcado para o final de outubro, aparece como ponto de inflexão para a continuidade de reformas e para o equilíbrio entre disciplina fiscal e demandas sociais. A direção do governo dependerá da capacidade de ampliar o apoio parlamentar e de responder às críticas de corrupção que ganharam contorno com as informações veiculadas. O resultado da votação em Buenos Aires, aliado ao contexto de avanços macroeconômicos, sinaliza que outubro pode abrir caminho para a consolidação de reformas ou, ao contrário, impor limites mais rígidos à agenda de Milei.Não interessa ao Brasil nem ao mundo uma Argentina novamente em convulsão. A leitura de analistas e economistas é de que o país precisa de estabilidade política para que as mudanças na política econômica tenham efeito duradouro, criando condições para que o país possa manter o crescimento, a inflação sob controle e a confiança dos investidores. O futuro, em resumo, depende de uma vitória estável que permita avançar com reformas e manter o país em uma trajetória de retomada econômica, sem descurar das questões institucionais que afetam a governabilidade.