Alfredo Gaspar e o dilema do holofote: visibilidade ou desgaste?
10/09/2025, 07:14:50Conviver com as cobras é um custo da vida dos vaga-lumes.
Na política, assim como nos palcos, o holofote é ambíguo. Ele ilumina, dá visibilidade, arranca aplausos e desperta admiração. Mas, quando excessivo, cega, ofusca e expõe até aquilo que deveria permanecer nos bastidores. É nesse jogo de luz e sombra que se encontra Alfredo Gaspar, personagem central da cena política alagoana, acostumado a brilhar, mas também a enfrentar o risco de ver sua imagem queimada pelo mesmo foco que o destacou.
Gaspar construiu sua trajetória com a firmeza de um homem público que soube usar a ribalta em favor de sua narrativa: promotor combativo, secretário de Estado atuante, deputado de discurso firme. O holofote o acompanhou em cada passo, transformando-o em símbolo de coragem e enfrentamento. Sua ascensão, portanto, não foi obra do acaso, mas da habilidade de manejar a exposição pública como ativo político.
Contudo, em política, a luz nunca é gratuita. Quanto mais intensa a claridade sobre os feitos, maior a nitidez das contradições. O eleitor que antes aplaudia o destemor pode passar a cobrar coerência, consistência e resultados. O mesmo foco que realça a coragem, também denuncia fragilidades. É a lógica do espetáculo político: o público não apenas quer o herói, mas exige que ele seja impecável — e, quando não é, não perdoa.
Alfredo Gaspar conhece bem esse dilema. A cada embate, suas posições firmes despertam admiração em uns e desconfiança em outros. É o preço de quem escolhe estar permanentemente sob a luz intensa do palco político. Se por um lado essa exposição o credencia como liderança de peso, por outro, amplifica os riscos de desgaste.
O desafio, portanto, é equilibrar brilho e cautela. Brilhar não é problema; o risco está em queimar a própria fotografia diante do eleitorado que, cada vez mais, se mostra exigente e impaciente. O holofote, afinal, não tem filtro: amplia o carisma, mas também o erro.
Em tempos de redes sociais, em que a política é espetáculo contínuo, a lição que se impõe é clara: não basta ter luz própria, é preciso saber quando e como usá-la. Alfredo Gaspar tem diante de si a tarefa de calibrar a intensidade desse foco. Porque, na política, a mesma claridade que ilumina a vitória pode também anunciar a sombra da derrota.