Raquel Buj: moda e arquitetura que rompem limites
09/09/2025, 00:33:20Raquel Buj: entre disciplinas, materiais e liberdade criativa
Raquel Buj atua na interseção entre arte, design e pesquisa de materiais, movendo-se com naturalidade entre a arquitetura e a moda. Seu trabalho busca libertar o corpo das convenções, transformando-o em um espaço experimental onde técnicas artesanais, produção digital e materiais inusitados se encontram. A trajetória da artista espanhola revela uma busca constante por liberdade criativa e experimentação com materiais reciclados e de origem biológica.
Origens: arquitetura e a metamorfose da prática
Nascida em Palência e formada em Arquitetura pela Escola Técnica Superior de Madrid, Raquel Buj construiu as bases de sua sensibilidade estética e técnica na arquitetura. O apartamento em Huertas, resultado de uma reforma realizada quando mantinha um estúdio com o arquiteto Pedro Colón, exemplifica essa fusão entre vida e prática profissional. Em suas próprias palavras, “O projeto desta casa fizemos para uma amiga que agora vive em Berlim. Já na época, imaginei que vivesse aqui. Nunca pensei que acabaria sendo assim.” ri.
A habitação converteu-se em um laboratório doméstico: ao unir um apartamento a uma despensa ela criou um duplex com uma escada que funciona como elemento de conexão, armazenamento e espaço de trabalho. Esse ambiente tornou-se uma extensão da prática de Buj, onde móveis e estruturas filtram e articulam espaços, refletindo a ideia de que arquitetura e vestuário são formas de habitação em diferentes escalas.
A virada criativa: da arquitetura à moda
A transição de Raquel da arquitetura para a moda não foi abrupta, mas resultou de uma necessidade de trabalhar em uma escala mais íntima e experimental. Ela admite que a formação arquitetônica a limitava por sua rigidez normativa e ênfase técnica. “Por um lado, sentia que havia algo em mim que não estava desenvolvendo plenamente no plano mais experimental e artístico. Por outro, queria trabalhar em uma escala mais humana. Mas não de dimensão, e sim corporal: de proximidad, intimidade e emoção. E isso é algo que com a arquitetura é muito difícil.”
Essa busca por liberdade levou-a a criar o primeiro corset solto, peça simbólica que marca a abertura para um universo onde roupas são dispositivos experimentais capazes de intervir no corpo e nas percepções. “Ao mesmo tempo, precisava ir em direção a uma maior liberdade, onde não sentisse um limite estabelecido; onde as coisas pudessem flutuar e eu pudesse me mover em lugares intermediários, inclusive também entre disciplinas.”
Materiais, técnicas e o corpo como suporte
A reinterpretação de materiais foi central na mudança disciplinar de Raquel. Inicialmente suas propostas incorporavam resíduos e elementos industriais — isolamentos térmicos e acústicos, lâminas de vidro e componentes iridescentes — explorando a ideia de uma moda que funciona como uma arquitetura de proximidade. Com o tempo, a artista ampliou seu repertório para incorporar biomateriais e matérias-primas orgânicas.
Entre os recursos que passou a investigar estão mexilhões, penas, flores e compostos desenvolvidos por ela mesma a partir de agar-agar e glicerina. Essa experimentação com matérias vivas ou reativas gerou peças que mesclam:
- técnicas artesanais tradicionais;
- processos digitais e impressão 3D;
- materiais biodegradáveis e componentes reciclados.
O resultado são criações que desafiam a separação entre vestuário, objeto e instalação, aproximando o design de um trabalho de laboratório em que textura, reação e ciclo de vida dos materiais importam tanto quanto a forma.
Peças emblemáticas e conexões culturais
Entre as peças de maior repercussão está a capa Metamorfosis, usada por Cristina Pedroche na virada de Ano Novo, que exemplifica a capacidade de Buj de transformar materiais orgânicos em objetos de alto impacto visual e simbólico. Sua coleção Ninhos, por sua vez, investigou como animais constroem arquiteturas a partir de materiais orgânicos, resíduos plásticos e componentes sintéticos, propondo uma leitura crítica e poética sobre habitar e aninhar.
Do corpo à performance: segunda pele e vida útil
Muitas das criações de Raquel funcionam como uma segunda pele, apresentadas frequentemente em contextos performativos. Algumas peças reagem ao calor corporal, outras mantêm processos biológicos que as fazem mudar com o tempo, seja por degradação posorgânica, seja por reativação via hidratação. Essa característica confere às obras uma dimensão quase viva e, por vezes, inquietante.
Parte da pesquisa consiste em pensar a vida útil dessas peças: enquanto algumas são totalmente biodegradáveis e projetadas para retornar ao ciclo natural, outras trabalham a ideia de congelamento temporal, podendo ser reativadas e reapresentadas conforme necessidades performáticas ou curatoriais.
Perspectivas atuais: liberdade, limites e interdisciplinaridade
A trajetória de Raquel Buj mostra que a busca por liberdade criativa é acompanhada de desafios. A artista reconheceu que, mesmo saindo da arquitetura, encontrou limites na prática da moda e precisou reorientar seu trabalho para uma abordagem mais artística e aberta à pesquisa. “Cheguei à conclusão de que gostava mais de como trabalham os artistas, porque o fazem a partir de uma pesquisa, com a liberdade de não saber aonde isso irá levá-los.”
Hoje, sua produção é híbrida: depende do projeto para assumir a forma de indumentária, objeto, instalação ou cenografia. O fio condutor é a experimentação com materiais e a sensibilidade humana, que preserva a conexão entre obra e corpo.
Práticas e métodos que definem sua pesquisa
- Desenvolvimento de materiais multitextura e biomateriais;
- Mescla de processos manuais com técnicas digitais;
- Apresentações performativas que testam a relação entre corpo e objeto;
- Exploração de resíduos e matérias orgânicas como matéria-prima sustentável.
Conclusão e chamada para ação
Raquel Buj é um exemplo de como a interseção entre disciplinas pode gerar novas linguagens estéticas e funcionais. Seu trabalho nos convida a repensar o que vestimos, como habitamos e quais materiais escolhemos para construir narrativas do corpo e do espaço. Se você se interessa por moda experimental, arquitetura contemporânea e inovação em materiais, acompanhe essa trajetória e participe da conversa.
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