Aluguel em Portugal pressiona estudantes brasileiros

Aluguel em Portugal pressiona estudantes brasileiros

Estudantes brasileiros enfrentam alta de aluguel em Portugal

Nos últimos anos, o custo da moradia em Portugal tem crescido de forma consistente, pressionando o orçamento de estudantes brasileiros que buscam formação superior no país. Relatos pessoais e dados oficiais mostram um cenário em transformação: cidades antes consideradas acessíveis agora apresentam preços que dificultam a permanência de quem depende de renda limitada ou apoio familiar.

Uma trajetória que se repete é a da estudante Edlanea Ferreira, que escolheu o Porto para fazer mestrado em Ciências Gastronômicas. Ela lembra a diferença de valores entre sua chegada e o presente: "Quando cheguei, consegui um quarto por 290 euros por mês. Hoje não se encontra por menos de 400. O aumento foi bem grande". Situações semelhantes são narradas por outros brasileiros que optaram por estudar em Lisboa, Coimbra e Braga.

Aumento constante nos últimos anos

Dados do Observatório do Alojamento Estudantil indicam que o preço médio do aluguel de um quarto em Portugal é de 415 euros por mês, um aumento de 5,5% em 12 meses. Em julho de 2024, o valor médio era de 397 euros, enquanto em 2022 a média estava em 275 euros. Esse crescimento contínuo amplia a distância entre salários e custos de habitação, especialmente para estudantes que dependem de bolsas ou trabalhos de meio período.

Pedro Neto Monteiro, presidente da Federação Acadêmica de Lisboa (FAL), sintetiza a gravidade: "O preço do alojamento para todo mundo, em particular para os estudantes do ensino superior, de fato aumentou. O preço médio de um aluguel está 500 euros, ou seja, mais da metade de um salário mínimo nacional". Atualmente, o salário mínimo em Portugal é de 870 euros, o que evidencia a desproporção entre renda e custos de moradia.

Relatos que ilustram a pressão financeira

O aumento afeta perfis distintos. Ayla Amaral, que chegou a Coimbra para cursar mestrado, pagou inicialmente 250 euros por mês dividindo a casa com quatro pessoas. Hoje, segundo ela, é raro encontrar quartos por menos de 300 a 350 euros; Ayla acabou optando por um microapartamento de 400 euros mensais: "Optei por não precisar dividir, mas isso compromete bastante a minha renda", diz.

Em Coimbra, Kaio Jesus, aluno de enfermagem, sente o impacto mesmo morando em residência universitária. Seu aluguel em quarto duplo subiu de 67 para 100 euros por mês desde a sua chegada. "Acompanho a subida dos preços e hoje morar fora da residência da universidade já se tornou inviável", ressalta. Ele complementa a renda trabalhando nos fins de semana: "Tenho ajuda dos meus pais e trabalho no final de semana como massagista em um centro de futebol para complementar a renda".

Diferenças regionais e impacto nas capitais

As médias variam por cidade: em Lisboa, o aluguel de um quarto gira em torno de 500 euros, podendo chegar a 714 euros em bairros mais caros; no Porto, a média é de 400 euros; Braga registra cerca de 323 euros; e Coimbra tem uma média mais baixa, de 280 euros. Mesmo assim, a trajetória de aumento é geral e contínua.

O professor Pedro Simão, dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa, relaciona a escalada dos preços à oferta reduzida de imóveis e ao aumento da procura: "São cidades com crescente demanda turística e de trabalhadores migrantes, o que encarece a habitação". Esse fenômeno combina turismo, procura por alojamentos temporários e migração laboral, pressionando o mercado residencial.

Alojamento caro x poder de compra

Para muitos estudantes, o custo da moradia corresponde a uma parte significativa do orçamento mensal, reduzindo a margem para alimentação, transporte e materiais de estudo. A combinação entre mensalidades, aluguel e despesas básicas torna a experiência acadêmica mais onerosa e, em alguns casos, inviável para famílias com menor poder aquisitivo: "Claro que para famílias em condições socioeconômicas mais vulneráveis, torna-se muito difícil, em algumas ocasiões impossível, suportar a frequência dos seus filhos no ensino superior", reforça Monteiro.

Estudantes locais x estrangeiros

Além da diferença de preços dos alojamentos, existe também a desigualdade nas taxas de matrícula. Em muitos cursos, estudantes portugueses ou da União Europeia pagam valores significativamente menores do que alunos internacionais. A estudante Lisandra Gonzaga, que chegou ao Porto para mestrado, relata ter adiado os planos devido à alta dos custos: "Eu comecei a pesquisar em 2020 e, desde essa época para cá, as coisas inflacionaram muito". Mesmo conseguindo trabalho no exterior antes de vir, ela ainda busca opções de moradia mais baratas: "O valor que estou pagando está na média [450 euros], mas gostaria de encontrar um espaço uns 100 euros mais barato pelo menos", afirma.

O especialista Higor Cerqueira explica que as diferenças nas anuidades estão ligadas ao processo de ingresso: estudantes que entram pelo estatuto de estudante internacional costumam ocupar vagas específicas, e as universidades cobram anuidades calculadas conforme os custos dos cursos. Isso cria uma dupla penalização para alguns estrangeiros: pagar mensalidades mais altas e arcar com aluguéis elevados.

O que pode ajudar os estudantes

Entre as possíveis respostas para aliviar a pressão, especialistas citam ampliação de residências universitárias, regulação temporária de aluguéis estudantis, incentivos a projetos de habitação social e maior transparência nas ofertas do mercado. Plataformas que reúnem dados sobre alojamento estudantil ajudam na tomada de decisão, mas políticas públicas e iniciativas institucionais são fundamentais para garantir acesso equitativo ao ensino superior.

Conclusão

O aumento do aluguel em Portugal é um desafio real para estudantes brasileiros e estrangeiros que buscam formação no país. Histórias pessoais, estatísticas oficiais e análises de especialistas apontam para a necessidade de medidas estruturais que ampliem a oferta de moradia acessível e atenue o impacto financeiro sobre quem está em formação. Se você é estudante ou conhece alguém nessa situação, compartilhe experiências e dicas nos comentários para ajudar quem está buscando alternativas.

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