10 anos da morte de Rachel Clemens símbolo de resistência

10 anos da morte de Rachel Clemens símbolo de resistência

Relembrando um gesto que virou símbolo

Em 2025 completam-se dez anos da morte de Rachel Clemens, a menina que, em 1979, ao se recusar a apertar a mão do general João Baptista Figueiredo, acabou eternizada em uma fotografia que simbolizou, para muitos, um pequeno gesto de resistência. Apesar de sua intenção não ter sido política, a imagem ganhou grande repercussão e atravessou gerações.

A história por trás da imagem

O encontro entre Rachel e o presidente ocorreu no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, durante um evento de lançamento do carro a álcool. Convidado para o almoço presidencial por trabalhar no Departamento de Estradas e Rodagens (DER), o pai de Rachel levou a família ao local. A menina, então com cinco anos, queria transmitir uma mensagem ao presidente sobre o almoço do pai.

Ao aproximarem-se do general, os adultos insistiram para que a menina cumprimentasse Figueiredo. Revoltada pela cobrança, Rachel reagiu: "Virei pra ele: 'você sabia que você vai almoçar com meu pai hoje'? Aí todo mundo ficava assim: 'dá a mão pra ele, dá a mão pra ele'. Eu detestei. Detesto que me mandem fazer as coisas. Não dei a mão porque eu não queria dar a mão pra ele, eu queria dar um recado pra ele". Essas palavras deram ao registro uma narrativa que ultrapassou o instante infantil.

O fotógrafo e a divulgação

A foto foi feita por Guinaldo Nicolaevsky, um fotógrafo conhecido por sua atuação crítica ao regime. Diferentemente de muitos colegas, que evitaram registrar o momento constrangedor para o presidente, Nicolaevsky captou a cena e percebeu sua relevância política. Quando O Globo se recusou a publicar a imagem exigindo o rolo intacto, ele mesmo distribuiu a foto para outros veículos, garantindo ampla divulgação, inclusive internacional.

Contexto político e social

O episódio aconteceu em um momento delicado do regime militar. João Baptista Figueiredo assumira a presidência em 1979 com a promessa de prosseguir a abertura política iniciada por Ernesto Geisel, mas o processo foi conturbado. Seu governo aprovou a Lei da Anistia, que permitiu o retorno de exilados e, controversamente, perdoou crimes cometidos por agentes do Estado.

Apesar de avanços como o fim do bipartidarismo e o surgimento de novas legendas, a transição sofreu com ações de setores da "linha dura" das Forças Armadas. Atentados e uma crise econômica marcada pela dívida externa e pela estagflação contribuíram para o desgaste do regime.

O significado da imagem

Ao longo dos anos, Rachel afirmou que, na época, não compreendia plenamente o significado dos militares no país: "Sou de uma época que criança era só criança e se preocupava mais em brincar e se divertir. Minha mãe estava danada comigo e queria que eu cumprimentasse o presidente, assim como todo mundo que estava por lá, mas acabei contrariando a todos porque era o meu jeito de menina", disse ela em entrevistas. Ainda assim, reconhecia o peso simbólico da foto: "Daquele período eu ficava sabendo que muita gente tinha medo da polícia, mas nem sabia o porquê."

O próprio regime chegou a investigar a possibilidade de que a menina tivesse sido "infiltrada" para constranger o presidente, o que evidencia a tensão da época e o alcance que uma imagem simples pode alcançar em contextos politicamente sensíveis.

Vida após a fama e legado

Longe dos holofotes, Rachel construiu uma trajetória profissional sólida: formou-se em comércio exterior, fez pós-graduação no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e trabalhou no exterior. Colegas lembravam-na com carinho, descrevendo-a como "extremamente alegre, muito engajada com a amizade, com a família, companheirona".

Rachel faleceu em 11 de abril de 2015, aos 40 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Deixou uma filha, Clara, e o legado de uma imagem que, embora nascida de um instante de birra infantil, passou a representar a busca por democracia e dignidade em um período de censura e medo.

O impacto histórico

Aquela fotografia, mais do que um registro pessoal, tornou-se um símbolo aberto a interpretações: para alguns, um simples episódio íntimo; para outros, um retrato da insatisfação crescente que culminaria na redemocratização do país. O período que se seguiu viu avanços importantes, como as primeiras eleições diretas para governadores em 1982 e a mobilização das manifestações por eleições diretas que marcaram os anos 1983 e 1984.

Embora a emenda que propunha as "Diretas Já" tenha sido derrotada no Congresso em 1984, a movimentação popular acelerou a transição. Em 1985, a eleição indireta consagrou a chapa de oposição, sinalizando o fim de 21 anos de regime militar e abrindo caminho para a redemocratização.

Por que ainda importa lembrar?

Recordar a história de Rachel é reavaliar como pequenas ações e imagens podem reverberar simbolicamente em momentos de transformação política. A foto nos lembra que a memó ria histórica se constrói também por gestos individuais, que, registrados e compartilhados, ganham novos sentidos.

  • Registro histórico: a imagem se tornou testemunho de um tempo.
  • Memória coletiva: um gesto singelo interpretado por muitos como resistência.
  • Legado pessoal: Rachel como profissional, mãe e lembrança afetiva para colegas e familiares.

Conclusão e chamada para ação

Ao completar uma década desde sua morte, Rachel Clemens merece ser relembrada não apenas pela foto, mas por sua vida e pelo papel que essa imagem assumiu na memória democrática do país. Convidamos você a refletir sobre a importância da memória histórica: comente sua opinião, compartilhe este texto e ajude a manter viva a lembrança de histórias que moldaram a nossa democracia.