Tarcísio enfrenta críticas após tarifas de Trump e reconhece danos em SP
12/07/2025, 10:44:13
Tarcísio enfrenta críticas após tarifas de Trump e reconhece danos em SP
O governador de São Paulo vem sendo duramente criticado por apoiar Donald Trump, que promove ataques à soberania brasileira.
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor ao Brasil uma taxação de 50% às importações de produtos brasileiros se tornou um fator novo com potencial de influenciar a eleição presidencial de 2026. A medida drástica do presidente americano trouxe um novo elemento para a disputa de narrativas entre a direita e a esquerda, deixando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no centro desse embate.
Trump justificou sua decisão citando uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o que chamou de “ordens de censura” do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas de mídias sociais dos EUA.
Candidato a herdeiro do apoio de Bolsonaro para o ano que vem — considerando que o ex-presidente está inelegível até 2030 e enfrenta acusações de liderar um plano de golpe de Estado —, Tarcísio admitiu que o impacto da taxação sobre produtos brasileiros será “negativo” para a economia paulista. Contudo, ele reafirmou sua associação com o bolsonarismo e o ex-presidente. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços apontam que São Paulo é o Estado que mais exporta para os Estados Unidos, com US$ 13,8 bilhões em 2024.
Na noite de quarta-feira (9), horas após Trump divulgar uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Tarcísio publicou uma mensagem na rede social X, culpando o governo brasileiro pela decisão do presidente americano. “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa”, escreveu.
O governador paulista se tornou alvo de críticas e, na manhã de quinta (10), durante uma agenda na capital, ponderou que o Brasil precisa “deixar de lado as questões ideológicas, o revanchismo e as narrativas” para negociar com os Estados Unidos. “São Paulo é um grande exportador de produtos industriais e tem nos Estados Unidos seu principal destino. Isso afeta diretamente empresas como a Embraer”, afirmou.
Sem outros compromissos oficiais previstos, Tarcísio viajou para Brasília onde se encontrou com Bolsonaro. O governador publicou um vídeo ao lado do ex-presidente, afirmando: “Sempre bom estar ao seu lado, presidente”.
Tarcísio enfrentou críticas também do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que o acusou de praticar “vassalagem”. “Ou uma pessoa é candidata a presidente ou é candidata a vassalo, e não há espaço no Brasil para vassalagem”, disse Haddad.
O ministro considerou o anúncio de Trump um golpe contra a soberania nacional, articulado por “forças extremistas” dentro do País. Ele afirmou que a direita terá que reconhecer, em breve, que deu um “enorme tiro no pé”, já que a medida prejudica exportações de empresas e produtores do Estado de São Paulo.
Tarcísio rebateu, afirmando que Haddad “deveria cuidar da economia”. “Se estivesse cuidando, talvez o Brasil estivesse indo melhor”, disse o governador. “Temos um problema fiscal sério. Portanto, é melhor falar menos e trabalhar mais”, completou.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também criticou Tarcísio pelas suas declarações sobre a tarifa e reforçou o prejuízo para o Estado. “Lamento que o governador defenda uma tarifa de 50%, imposta pelo governo dos EUA, que penalizará a indústria e a agroindústria paulista, em vez de defender a população do seu Estado e do Brasil como nação”, disse Rui Costa em uma publicação no X. “Liderança, governador, se exerce com coragem. É compreensível que queira agradar ao ex-presidente a quem serviu como ministro, mas quem valoriza São Paulo não apoia medidas absurdas, ilegais e imorais impostas por estrangeiros”, acrescentou.
Embora Tarcísio não tenha defendido explicitamente a tarifa imposta por Trump, a estratégia do governo Lula busca associar o máximo possível essa tarifa a Bolsonaro e seus aliados. O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do ex-presidente, que está nos EUA defendendo sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, chegou a compartilhar nas redes sociais uma imagem agradecendo a Trump pela tarifa.
Um levantamento da AP Exata concluiu que a decisão de Trump de impor uma taxação de 50% sobre produtos nacionais está sendo amplamente rejeitada. De acordo com o estudo, feito com base em 260 mil publicações, 59% criticaram a medida e exigiram uma reação do Brasil, enquanto apenas 22% manifestaram apoio à decisão dos Estados Unidos.
Como um potencial presidenciável para 2026, Tarcísio tem buscado equilibrar sua fidelidade a Bolsonaro, uma postura de direita moderada e acenos ao bolsonarismo, participando de atos públicos pró-Bolsonaro e defendendo a anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro. Em janeiro, ele publicou um vídeo em suas redes sociais usando um boné com o tradicional lema de Trump: “Make América Great Again”. Recentemente, compartilhou no X sua primeira e mais contundente manifestação de apoio de Trump a Bolsonaro, que chamou os processos judiciais contra o ex-presidente de “perseguição”, e Tarcísio repetiu o argumento, afirmando que Bolsonaro “deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”.
Ainda outros governadores têm se manifestado sobre a situação. O governador paulista é visto como a alternativa preferida do Centrão e de setores da direita e centro-direita para concorrer contra Lula em 2026. Apesar de estar inelegível e sob risco de prisão pela tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro reluta em indicar um sucessor eleitoral. Outros governadores que também são possíveis candidatos na corrida presidencial de 2026, como Romeu Zema (Novo) de Minas, e Ronaldo Caiado (União Brasil) de Goiás, também responsabilizaram Lula e o governo federal pela decisão de Trump. Caiado afirmou que o petista “segue à risca o que Hugo Chávez fez na Venezuela”, afrontando o governo americano sem necessidade. Zema afirmou que “as empresas e os trabalhadores brasileiros vão pagar, mais uma vez, a conta do Lula, da Janja e do STF”. “Ignorar a boa diplomacia, promover perseguições, censura e fazer provocações baratas custará caro para Minas e para o Brasil”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.