Vorkutá, a cidade fantasma com imóveis a 1 real

Vorkutá, a cidade fantasma com imóveis a 1 real

Uma cidade esquecida no extremo norte da Rússia

No norte gelado da Rússia, além do Círculo Polar Ártico, existe uma cidade onde a primavera não traz flores, mas neve preta soprada por ventos impiedosos e o silêncio cortante do abandono. Vorkutá, antigamente símbolo do poder industrial soviético, hoje é uma paisagem desoladora. Uma mistura de apocalipse urbano, memória congelada e sobrevivência. As informações são do canal do YouTube Adilson está aqui.

A desolação de um lugar em ruínas

As cenas parecem retiradas de um filme de terror ou de um videogame pós-apocalíptico. Prédios em ruínas, escadas corroídas, janelas quebradas, ruas vazias. Os antigos blocos residenciais soviéticos, antigamente cheios de vida, agora são esqueletos urbanos que abrigam fantasmas e, surpreendentemente, algumas poucas almas que se recusam a deixar o local.

A história sombria por trás de Vorkutá

As construções começaram em 1953, ano da morte de Stalin, o líder soviético que governou a União Soviética de meados da década de 1920 até sua morte em 53. A cidade foi erguida com suor, sangue e repressão: milhares de prisioneiros do Gulag, soldados e engenheiros foram trazidos à força para transformar a tundra congelada num centro de mineração de carvão.

Era o coração de um projeto grandioso e cruel, que previa 300 mil habitantes em 15 cidades-satélites. Hoje, restam pouco mais de 50 mil pessoas e, muitas delas, presas em edifícios que parecem prestes a desmoronar.

Imóveis a preços irrisórios na cidade fantasma

Em bairros como Komsomolsky e Vargashor, apartamentos são oferecidos por um rublo (o equivalente a menos de R$ 1 real) e ainda assim ninguém compra. A razão é evidente: o que resta dessas cidades são ruínas congeladas, com infraestrutura colapsando, sem aquecimento adequado, sem segurança.

A dura realidade dos moradores

Em Vargashor, mais de 9 mil pessoas vivem em prédios rachados, com escadas improvisadas de madeira podre. Muitos chamam o banheiro de "abrigo antibomba", por acreditar que é o único cômodo que não vai desabar.

A neve preta, resultado da fuligem carregada pelo ar desde antigas minas de carvão, cobre tudo como um manto fúnebre. Há casas com paredes inteiras cobertas de gelo por dentro. Em alguns apartamentos abandonados, os radiadores ainda estão ligados, aquecendo o vazio.

Os custos, porém, seguem sendo cobrados: quem não transfere legalmente a propriedade continua responsável por contas de manutenção e impostos. Os preços são altos, os salários baixos. Um pão pode custar o equivalente a um quarto de dia de trabalho.

Resistência em meio ao caos

Apesar disso, há resistência. Um mercadinho local insiste em manter as portas abertas mesmo sem lucro. Algumas poucas luzes se acendem à noite em meio à escuridão total. E há histórias quase míticas, como a de um morador que se recusa a abandonar seu apartamento, mesmo com o prédio condenado.

A luta pela sobrevivência

A situação é tão crítica que um programa de realocação foi criado, mas anda a passos glacialmente lentos: com uma fila de quase 15 mil pessoas, há quem precise esperar séculos para ser chamado, se depender do ritmo atual.

Enquanto isso, a população vive entre ruínas, memórias e desespero. Não há monumentos aos mineiros que ergueram a cidade com seus corpos. Em vez disso, no centro de Vargashor, há uma homenagem silenciosa a um pedaço de carvão, símbolo sombrio de tudo o que foi construído e abandonado.