Sanfona conquista o coração do Nordeste e Alagoas
09/06/2025, 08:49:33
No mês dos festejos juninos, o g1 AL reuniu a história do instrumento que ganha o coração do povo brasileiro.
A sanfona é um instrumento musical de fole, com teclado e baixos, que chegou ao Brasil através dos imigrantes italianos e alemães. O instrumento é complexo: de um lado, possui o teclado, responsável pela melodia da música; no meio está o fole, que sopra o ar; e, do outro lado, estão os baixos, responsáveis pela harmonia. Há também a sanfona de oito baixos, uma variação do instrumento que possui baixos dos dois lados, sendo ainda mais difícil para quem toca. Veja histórias de artistas como Anderson Fidellis e Cecílio.
Alagoano Fidellis fala sobre sua trajetória e inspirações. Não há como negar que a sanfona é a melhor amiga de todo sanfoneiro. Como já bem dizia Luiz Gonzaga, ‘olha aqui, essa sanfona sempre foi minha dona e tem valor de estimação!’ Dona do Nordeste e dos festejos juninos, se confunde com nomes como Luiz Gonzaga e Sivuca, mas acima de tudo, mostra a história e a identidade de um povo. Não é só um instrumento, é a sanfona do povo.
A rainha do forró
Também conhecida como acordeon ou gaita, a sanfona chegou ao Brasil através dos imigrantes italianos e alemães. Disseminada primeiramente no sudeste brasileiro, o instrumento chegou ao norte através dos soldados nordestinos que lutaram na Guerra do Paraguai e foi popularizado pelo rei do baião, Luiz Gonzaga. O instrumento é complexo: de um lado, possui o teclado, responsável pela melodia da música; no meio está o fole, que sopra o ar; e, do outro lado, estão os baixos, responsáveis pela harmonia.
"Rapaz, a primeira dificuldade é comprar uma, é cara! Pra pessoa comprar tem que ter jogo de cintura, juntar um dinheirinho para começar a brincadeira. Mas, o fato de ela ter essa divisão de baixo, teclado e fole, onde passa o ar e faz o som vibrar. Então você controlar esse movimento aqui e saber onde apertar, saber onde colocar a mão, isso requer um tempinho pra estudo. Então primeiro é comprar uma, segundo é ter tempo pra aprender porque não é fácil não", brincou Fidellis.
Há também a sanfona de oito baixos, uma variação do instrumento que possui baixos dos dois lados, sendo ainda mais difícil para quem toca. “É uma arte que está em extinção, principalmente a sanfona de oito baixos, que é muito difícil de ser tocada. Ela não é como uma sanfona comum. A sanfona de oito baixos, as notas são dadas no fole. Então quando aperta e fecha o fôlei é uma nota. Quando abre, a mesma tecla da outra nota. Então é um instrumento muito difícil de ser tocado e que os instrumentistas dele estão morrendo, estão velhos”, explica o jornalista e produtor Paulo Poeta.
O instrumento em Alagoas
No abre e fecha do fole, as mãos de um afinador se fazem uma das protagonistas da história e desenvolvimento da sanfona em Arapiraca, no Agreste de Alagoas. Seu Cecílio, como é popularmente conhecido na cidade, tem 87 anos e formou o 'Hospital das Sanfonas', um local de restauração e preservação dessa cultura no estado. Seu Cecílio trabalha afinando o instrumento há 55 anos e conta que é muito procurado pelos sanfoneiros do estado. Para ele, o amor à música é essencial e indispensável para quem deseja tocar.
"Tem gente que chega aqui perguntando se é difícil tocar. Primeiramente tem amor a ela, tendo amor a música vai trabalhando, né? Se tiver amor a música vai aprender! Tem que ter o ritmo", disse.
Para ele, Alagoas precisa resgatar a cultura do forró e do São João raiz. "A mocidade não quer mais tocar sanfona. A gente vê muito essas festas em Caruaru, mas aqui em Arapiraca mesmo não tem. Uma cidade desse tamanho, com tanto sanfoneiro, não tem uma festa grande. Trabalho não falta, sabe? É muita sanfona para afinar, mas não tem essa festa", afirmou.
Mas para Paulo Poeta, a cidade de Arapiraca pode ser considerada um polo exportador da cultura do forró para Alagoas. Segundo ele, a feira da cidade costumava ser um ponto de encontro cultural. “A grande feira de Arapiraca era mais importante até do que a feira de Caruaru. Então tudo corria para a Arapiraca. Tudo corria para a feira. A feira é um grande encontro das pessoas de toda a região, e, claro, o encontro do Forró, o encontro da literatura de Cordel, o encontro dos repentistas, o encontro dos folguedos. Então, a expressão econômica que a Arapiraca sempre teve puxou para si isso de ser um polo onde todas essas vertentes se manifestaram enfaticamente”, fala.
Assim como Fidellis, que cresceu ouvindo forró na casa dos avós, a história de Cecílio com esse instrumento também fala sobre laços, afetos e herança geracional. Segundo ele, o "hospital" nasceu quando ele aprendeu a afinar a própria sanfona. "Eu aprendi a tocar menino. Tem 55 anos que eu toco, né? O meu pai tocava e no tempo que eu era criança mão tinha dinheiro pra comprar sanfona, aí inventei um cavaquinho numa lata de doce pra tocar, comecei a tocar violão também. Depois que me apaixonei, comprei uma sanfona e aí não parei mais", compartilhou o músico.
Entre afetos, dificuldades e o amor de uma nação, a sanfona resiste à tecnologia, ao tempo e a desvalorização. É um instrumento do povo.