Lula critica sanção dos EUA a Moraes como inadmissível
04/06/2025, 05:08:18
Lula: a ameaça de sanção dos EUA a Moraes
“É inadmissível que um presidente de qualquer país do mundo dê palpites sobre a decisão da Suprema Corte de um outro país”, disse Lula.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como inadmissíveis as ameaças de sanção, por parte do governo dos Estados Unidos, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. “É inadmissível que um presidente de qualquer país do mundo dê palpites sobre a decisão da Suprema Corte de um outro país”, reiterou Lula em coletiva de imprensa, no Palácio do Planalto.
O governo norte-americano estuda medidas nesse sentido, considerando a pressão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que alegam haver uma perseguição judicial no Brasil relacionada ao julgamento da tentativa de golpe de Estado que culminou em 8 de janeiro de 2023.
“Se você concorda ou se você não concorda, silencie. Não é correto você dar palpite. Não é correto você ficar julgando as pessoas. Já tive meu passaporte suspenso nos Estados Unidos. Acho que os Estados Unidos precisam compreender que respeito à integridade das instituições de outros países é muito importante”, afirmou Lula, ao comentar a atuação da Suprema Corte brasileira.
“Achamos que um país não pode ficar se intrometendo na vida do outro, querendo punir o outro país. Isso não tem cabimento”, acrescentou.
Para Lula, é fundamental respeitar as instituições. “Como eu gosto de respeitar, eu gosto de ser respeitado. Por enquanto, o que temos são falas de pessoas, mas pode ficar certo que o Brasil vai defender não só seu ministro, mas a Suprema Corte”, enfatizou.
O governo dos Estados Unidos também expressou sua intenção de restringir a entrada no país de autoridades acusadas de promover censura contra empresas e cidadãos norte-americanos. Embora não tenha mencionado nomes específicos, a medida parece ter como alvo o ministro Alexandre de Moraes, que é acusado por apoiadores de Bolsonaro de censurar parlamentares de direita e plataformas das redes sociais.
Na coletiva, Lula criticou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está licenciado. Eduardo tem denunciado nos Estados Unidos o que considera perseguição contra seu grupo político.
“O que é lamentável é que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, está lá convocando os Estados Unidos para se meter na política interna do Brasil. Isso é grave, é uma prática terrorista e antipatriótica”, afirmou o presidente.
Lula também classificou a conduta de Eduardo Bolsonaro em solo norte-americano como uma “provocação” e “desrespeito ao Brasil”. “Esse cidadão pensava isso da Suprema Corte quando mentiu a meu respeito? Você conhece alguma fala dele questionando a Suprema Corte? Não. O pai dele não nega os votos que seus filhos receberam. Só nega os dele”, afirmou Lula.
“É preciso que haja um mínimo de bom senso. Se essa gente pensa que vai ganhar consciência da sociedade com mentira, é um ledo engano”, destacou Lula. A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro Alexandre de Moraes abriu um inquérito para investigar a participação de Eduardo Bolsonaro na articulação com autoridades estadunidenses para promover sanções contra o STF.
O filho do ex-presidente Bolsonaro será investigado por crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação, por supostamente incitar o governo dos EUA contra Moraes.
Durante a coletiva, Lula também abordou o conflito na Faixa de Gaza, afirmando que as ações do Exército israelense não devem ser tratadas “como se fosse uma guerra normal”. Para Lula, o governo de Israel deve parar com o “vitimismo”.
“Vocês já viram a carta de mil militares [israelenses] anunciando que não é mais guerra, é genocídio. Você não pode, a pretexto de encontrar alguém, matar mulheres e crianças, deixar crianças com fome”, disse Lula, referindo-se às consequências do conflito. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza é um genocídio, a morte de pessoas inocentes, é uma decisão de um governo que nem o povo judeu quer”, afirmou.
Para Lula, a paz só será alcançada quando o Estado palestino for reconhecido.
Recentemente, o governo brasileiro criticou a aprovação de mais 22 assentamentos israelenses em território palestino, que, segundo o Itamaraty, configura uma “flagrante ilegalidade perante o direito internacional”. Em resposta, a Embaixada de Israel em Brasília alegou que autoridades pelo mundo “compram mentiras” do grupo militar palestino Hamas, atacando o governo do presidente israelense, Benjamin Netanyahu.
Hoje, Lula reafirmou que “um presidente da República não responde a uma embaixada”. “O presidente da República reafirma o que disse: o que está acontecendo em Gaza não é uma guerra, é um exército matando mulheres e crianças”, enfatizou.
Na noite desta terça-feira, Lula embarcará para Paris, onde realizará uma visita de Estado, a primeira em 13 anos por um chefe de governo brasileiro. Entre seus compromissos, prevê-se uma nova declaração climática conjunta com o presidente francês, Emmanuel Macron, além de receber o título de doutor honoris causa na Universidade Paris 8 e ser homenageado na Academia Francesa.
A agenda inclui também participação na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, onde se reunirão cerca de 60 chefes de Estado.