Especialista analisa a febre dos bebês reborn e o psicológico
14/05/2025, 18:02:28
A febre do bebê reborn
Nas últimas semanas, um assunto dominou as conversas e as interações nas redes sociais: o bebê reborn. Hiperrealista, a boneca vem sendo tratada como um verdadeiro membro da família por diversas pessoas, que compartilham sua rotina nas mídias e chamam a atenção dos internautas. Até mesmo famosos como Gracyanne Barbosa, Nicole Bahls, Luciana Gimenez, Padre Fábio de Melo e Britney Spears adotaram sua boneca. "Como já disse anteriormente, meu sonho é ter um filho. Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade. Te amo, bê!", declarou Gracyanne ao anunciar a adoção do bebê.
Impactos psicológicos dos bebês reborn
Esse comportamento vem gerando debates sobre apego emocional e o limite entre um hábito saudável e o que precisa de atenção clínica. Confira abaixo a entrevista com a psicóloga Luiza Monteiro, que reflete sobre o assunto:
Uso de bebês reborn como ferramentas terapêuticas
Os bebês reborn podem ser utilizados como ferramentas terapêuticas em contextos como tratamento de luto e traumas, na redução da ansiedade e no fortalecimento das habilidades emocionais de cuidado e empatia. Embora não haja uma grande quantidade de estudos formais sobre o uso específico dos bebês reborn na terapia, há evidências de que objetos que simulam bebês reais podem ter efeitos psicológicos benéficos quando usados de forma consciente e equilibrada com o acompanhamento psicológico contínuo, essencial para garantir que os efeitos terapêuticos sejam positivos e não prejudiquem o tratamento de cura emocional.
Apego emocional e limites
O apego emocional a uma boneca reborn pode ser saudável em contextos terapêuticos bem definidos, como no luto ou no desenvolvimento do cuidado emocional, sem ultrapassar os limites da realidade. No entanto, se a pessoa se isola, começa a tratar o objeto como uma substituição para a interação humana real ou se o comportamento se torna compulsivo, de forma a interferir nas relações interpessoais reais e no bem-estar dessa pessoa, é importante procurar a ajuda de um psicólogo.
Julgar o apego às bonecas reborn
É importante sempre lembrar que o bebê reborn pode ser uma ferramenta terapêutica e não um substituto para interações humanas reais. Acompanhamento psicológico é essencial para garantir que o apego a esses objetos não prejudique o bem-estar emocional e social do indivíduo.
Normas sociais e apego a objetos
Acredito que o julgamento social em torno dos adultos que cuidam de bebês reborn é uma manifestação das normas culturais sobre o que é “normal” ou esperado para os adultos. O fato de um adulto se apegar a uma boneca reborn (um objeto) pode ser percebido como algo “fora da norma”, já que não se encaixa nas expectativas tradicionais de como o cuidado parental deve ser demonstrado, que seria com um bebê real.
Substituição de vínculos humanos
Sim, é possível e por isso o uso de bebê reborn deve ser acompanhado e orientado por um psicólogo. Se uma pessoa começa a preferir a companhia de um objeto em vez de se envolver com pessoas reais, isso pode levar ao isolamento emocional. Quando o vínculo com o objeto começa a substituir ou suprimir os relacionamentos humanos, a pessoa pode evitar lidar com emoções mais profundas ou interações sociais que exigem mais vulnerabilidade e esforço.
Diferenciando hobbies de comportamentos problemáticos
Entendo que a diferença entre um hobby saudável e um comportamento que merece atenção clínica está centrada no impacto que essa atividade tem sobre a vida da pessoa. Se a atividade proporciona benefícios emocionais e não interfere negativamente no funcionamento diário, nas relações e na saúde mental, ela pode ser considerada saudável. No entanto, se a atividade começa a prejudicar o bem-estar, a qualidade de vida e o relacionamento com os outros, ela pode ser um sinal de que a pessoa está usando essa atividade como uma forma de fuga emocional, o que pode exigir a intervenção de um psicólogo.
O papel do mundo digital
Acredito que o sucesso dos bebês reborn está relacionado ao mundo digital e ao aumento da solidão, tanto de jovens quanto de adultos. A conectividade digital facilita interações rápidas e superficiais, mas, paradoxalmente, também pode levar a uma sensação de solidão. As redes sociais, embora permitam conexões instantâneas, muitas vezes não oferecem a profundidade emocional das interações face a face, e a sobrecarga de informações digitais pode contribuir para um isolamento emocional.
Nesse contexto, os bebês reborn podem funcionar como substitutos emocionais para vínculos humanos reais, oferecendo uma sensação de controle, afeto e segurança. No entanto, é importante que o apego a esses objetos seja consciente e equilibrado, para que não substitua a necessidade de relações humanas autênticas, que são essenciais para o bem-estar psicológico. É preciso atenção e cautela, pois a relação com um bebê reborn pode se tornar uma forma de controle emocional, visto que eles não exigem a vulnerabilidade ou a complexidade das interações humanas e podem proporcionar uma sensação de segurança e previsibilidade emocional. Isso é especialmente atrativo em um mundo digital onde as interações podem ser rápidas e muitas vezes superficiais.
O apoio psicológico pode ser fundamental para ajudar as pessoas a lidarem com os efeitos da solidão e a encontrarem maneiras mais saudáveis de se conectar emocionalmente.