BRICS promove multilateralismo durante guerra comercial de Trump
28/04/2025, 08:33:02
Defesa do Multilateralismo pelo BRICS
O BRICS dará um passo adiante nesta segunda-feira (28) no Rio de Janeiro para defender o multilateralismo, em meio à guerra comercial de Donald Trump contra o mundo e, em especial, a China, nação mais influente deste grupo de países emergentes. Os chanceleres dos países-membros dos BRICS se reunirão durante dois dias como antessala da cúpula de líderes prevista para os dias 6 e 7 de julho na capital fluminense.
O Brasil exerce este ano a presidência rotativa do bloco, que é composto também por China, Rússia, Índia, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Indonésia e Arábia Saudita. A reunião de alto nível ocorre em um momento crítico para a economia, uma vez que o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as previsões de crescimento mundial a 2,8% para este ano, devido aos "níveis extremamente elevados de incerteza" decorrentes das tarifas americanas e das represálias de vários países.
Negociações entre os Países Membros
"Os ministros estão negociando uma declaração com vistas a reafirmar a centralidade e a importância do sistema multilateral de comércio", disse no sábado o chefe negociador do Brasil no BRICS, Mauricio Lyrio. O bloco, que representa quase metade da população mundial e 39% do PIB global, buscará se posicionar como defensor de um comércio baseado em regras diante de medidas unilaterais "de qualquer origem que sejam", afirmou Lyrio aos jornalistas.
A guerra comercial desatada pelo republicano Donald Trump afetou especialmente a China, membro-fundador do BRICS, que enfrenta tarifas de 145% sobre seus produtos, com Pequim respondendo com tarifas de 125% às importações americanas.
Papel do BRICS na Economia Global
O bloco "assumirá o papel de defensor das normas e da ordem globais", mas ao mesmo tempo, deseja evitar qualquer confrontação direta com o governo Trump, estima Michael Shifter, do centro de estudos Diálogo Interamericano.
Na agenda poderá estar o tema sensível do estímulo à desdolarização do comércio entre os países do BRICS, discutida em outubro na cúpula de Kazan, na Rússia, e que provocou ameaças de Trump com sobretaxas de 100%. Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), lembra que o Brasil está entre os países menos castigados com as tarifas aduaneiras (10%) e indicou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tentará fazer com que prevaleça a "cautela". "Se tivermos uma posição mais dura em relação aos Estados Unidos é porque a posição da China prevaleceu", disse ele à AFP.
Reunião de Alto Nível no Palácio do Itamaraty
A reunião será presidida pelo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, e contará com a presença do russo Sergei Lavrov e do chinês Wang Yi, entre outros. O encontro começará por volta das 11h de Brasília no histórico Palácio do Itamaraty, no centro do Rio. A agenda prevê uma sessão nesta segunda-feira sobre o papel do bloco diante dos conflitos geopolíticos. Uma declaração final será emitida ao término deste primeiro dia.
Na terça-feira, será debatido entre os nove países associados a importância do Sul Global no multilateralismo.
Mudanças Climáticas e Geopolítica
A mudança climática ocupará um lugar de destaque, a poucos meses de o Brasil ser anfitrião da COP30 em Belém do Pará. Os chanceleres negociam uma declaração para a cúpula de julho para pedir que os países assumam compromissos maiores na luta contra o aquecimento global. "A questão do financiamento é absolutamente central" para o BRICS, apontou Lyrio, que reiterou a posição brasileira de que os países ricos têm a "obrigação" de financiar a transição energética.
Os Estados Unidos, país que mais emite gases de efeito estufa depois da China, anunciaram na sexta-feira o fechamento de seu escritório que administra a diplomacia climática. A medida não causou surpresa após Trump, um reconhecido cético da mudança climática, ter anunciado em janeiro a saída de seu país do Acordo de Paris.
Discussões sobre a Guerra na Ucrânia
Um posicionamento sobre a guerra na Ucrânia também poderá exigir malabarismos diplomáticos, especialmente quando Washington impulsiona um acordo que parece muito favorável a Moscou. Goulart Menezes lembra que, em reuniões anteriores, o BRICS foi "genérico" em relação a esse conflito. "Não há uma condenação da Rússia por parte dos outros membros", ressaltou.