Lula defende integração sul-americana em encontro com Boric
23/04/2025, 08:31:36
Encontro de Líderes e o Chamado à Integração
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta terça-feira (22), que não deseja uma nova guerra fria e que não quer escolher entre os Estados Unidos e a China. Durante a visita de Estado do presidente chileno, Gabriel Boric, no Palácio do Planalto, Lula destacou a importância da integração entre os países da América do Sul e a necessidade de cordialidade nas relações comerciais.
“A nós, brasileiros, não agrada essa disputa estabelecida pelo presidente [dos Estados Unidos, Donald] Trump. Eu acho que ela não é conveniente para os Estados Unidos, não é conveniente para a China e não é conveniente para nenhum país do mundo,” disse Lula.
Ele se referiu à política protecionista de Trump, que impôs altas tarifas de importação, especialmente à China, que respondeu de forma recíproca.
“Eu não quero guerra fria, eu não quero fazer opção entre Estados Unidos ou China. Eu quero ter relações com os Estados Unidos, quero ter relação com a China. Eu não quero ter preferência sobre um ou sobre o outro. Quem tem que ter preferência são todos os meus empresários, que querem negociar. Mas eu, não. Eu quero negociar com todo mundo. Eu quero vender e comprar, fazer parceria,” reforçou.
Para Lula, a democracia, o multilateralismo e o livre comércio precisam ser consolidados globalmente. “A geopolítica do mundo não é feita de ocasiões. Ela tem que ser perene, e nós precisamos construir instituições que deem segurança ao exercício da democracia, independentemente de quem seja o presidente da República,” afirmou.
A Busca pela Integração
O presidente enfatizou estar “obcecado pela integração” e que o Brasil deve ser um agente indutor do desenvolvimento regional, levando em conta seu tamanho e a importância econômica. “Um país como o Chile, a Bolívia, o Equador, o Uruguai, mesmo o Brasil, que é um país grande territorialmente, mas economicamente e tecnologicamente ainda é fraco diante do que poderia ser,” explicou. “Quando você vai negociar com uma grande potência, você fica muito vulnerável.”
Lula argumentou que é fundamental diversificar as relações comerciais para evitar que os países latino-americanos permaneçam “mais um século pobres.”
“Os Estados Unidos poderiam ter financiado o desenvolvimento em El Salvador, na Guatemala, em Honduras, permitindo que todos eles se tornassem satélites de desenvolvimento. Mas continuam todos pobres,” criticou o tratamento dado pelo país norte-americano aos imigrantes latino-americanos. “Então, todo mundo quer viajar para os Estados Unidos para ver se melhora de vida. Depois de ajudar a construir a riqueza americana, aparece um presidente que os trata como inimigos. Latino-americano agora é tudo inimigo,” acrescentou.
“O mundo não pode ser induzido à raiva, ao ódio, ao preconceito, à perseguição,” complementou Lula.
O presidente chileno, Gabriel Boric, apoiou as declarações de Lula e afirmou que o Chile é contra a politização arbitrária do comércio, destacando que é sempre importante estar próximo de países aliados em tempos de incerteza.
Acordos Assinados
A visita de Boric ao Brasil coincide com a primeira celebração do Dia da Amizade entre Chile e Brasil, estabelecido no ano passado, em homenagem ao início das relações diplomáticas em 22 de abril de 1836.
Durante a cerimônia, foram assinados diversos atos, incluindo:
- Memorando de entendimento para cooperação em inteligência artificial (IA) focando no desenvolvimento regional;
- Memorando para fortalecer a agricultura familiar, promovendo a produção e a redução de perdas de alimentos;
- Memorando sobre cooperação consular e migratória, criando uma comissão bilateral;
- Acordo de cooperação sobre segurança pública visando o combate ao crime organizado;
- Tratado sobre assistência jurídica penal para apoio em investigações;
- Acordo de coprodução audiovisual para fortalecer as indústrias cinematográfica;
- Memorando de entendimento para intercâmbio de oficiais em operações de paz da ONU;
- Memorando entre as agências de promoção Apex e Prochile para impulsionar relações comerciais.
Além desses, novos atos foram firmados em áreas como colaboração acadêmica, intercâmbio cultural e apoio a micro e pequenas empresas.
Após a agenda no Planalto, Lula e Boric prosseguiram para o Palácio Itamaraty para um almoço e participam do encerramento do Foro Empresarial Chile-Brasil na CNI, em Brasília.
Diversificação das Relações Comerciais
A visita de Gabriel Boric visa promover uma maior diversificação nas relações entre Brasil e Chile, com um foco em integração logística e comercial. Em um evento agendado para esta quarta-feira (23), ele deve discutir o Corredor Bioceânico, uma via que ligará o Centro-Oeste do Brasil aos portos do Norte do Chile.
Essa obra de infraestrutura, em parceria com Paraguai e Argentina, deve ser concluída em breve, e os países já discutem como garantir serviços fronteiriços e logísticos modernos e ágeis. Os portos chilenos terão um papel central nessa logística, facilitando o acesso aos mercados do Pacífico. “Isso é integração, não somente fotos de cúpulas [de líderes],” ressaltou Boric.
Os dois países possuem mais de 100 acordos bilaterais em vigor e mantêm um comércio equilibrado, igualando-se a aproximadamente US$ 12 bilhões por ano. O Brasil é o terceiro maior parceiro comercial do Chile, principalmente importando cobre, pescados e minérios, enquanto o Chile é o sexto maior destino das exportações brasileiras.
O Brasil lidera os investimentos latino-americanos no Chile em diversas áreas, incluindo energia e serviços financeiros, enquanto o Chile é o principal destino dos investimentos chilenos no exterior, focando em setores como celulose, varejo e energia.