Os tempos do tempo!

Entre secas e insolação, morre o rio e cresce o sertão.

Os tempos do tempo!

Para quem nunca viajou pelo sertão de Alagoas ou a região do Cariri no Ceará, não pode fazer uma ideia de como o Sol causticante devasta a vegetação e junto com ela o gado. Os animais morrem à mingua entre o coro e o osso, e o sertanejo chora.

As chuvas que nós tínhamos nas décadas de 60/70/80 estão sendo desviadas pelas correntes dos ventos e produzidas em muito menores quantidades. Marcam-nos muito mais os períodos de seca que de pequenas enchentes.

O fenômeno da friagem que descia da região amazônica percorrendo o Nordeste fazendo as cheias do Velho Chico barreando as águas que dragavam o leito do rio todos os anos, arrastando o limo fertilizante para as noventa lagoas de arroz que existiam entre Piranhas e a foz, região abaixo da cidade de Piaçabuçu.

A falta dessas chuvas tem deixado um rastro de tristezas e mortes por entre as serras que cercam a região sertaneja, e neste momento juntando-se à pandemia do Coronavírus, dão sinais dos tempos do tempo. O calor racha a terra que se abre a espera de água que não vem, e o sertanejo chora ao ver tanta dor em seus animais e a perda da lavoura como se castigo fosse.

A falta do poeta para cantar ou recitar em versos a dor da triste partida já não faz chegar aos homens de Brasília a penúria que toma conta da imensidão do sertão. Fotos não revelam nem traduzem a tamanha desgraça que se abate nesta região. A fábrica de votos por meio dos carros pipas também não atende ao home do campo fora das eleições.

E como descrevi em poema aos quinhentos anos do rio São Francisco, a seca diminui o rio e aumenta o sertão!

Creditos: Raul Rodrigues