A visita de um antigo viajante ao comércio de Penedo. Reedição a pedidos.

Artigo escrito faz oito anos. Algumas atuais mudanças não permite alterar para não perdermos a originalidade do texto.

A visita de um antigo viajante ao comércio de Penedo. Reedição a pedidos.

É estranho andarmos por onde já passamos e vermos muitas das vezes um pedaço da nossa história desaparecendo aos poucos. Aos poucos quase nada nos consegue chamar a atenção ou percebermos o que está a acontecer.

Quase não percebemos o crescimento dos nossos filhos; estamos a vê-los a todos os momentos e essas mudanças não são perceptíveis sem a distância do tempo.

Assim mesmo acontece com o que nossos olhos convivem como rotina!

Mas se alguém que há muito tempo não vem a Penedo passar pelo comércio penedense vai ficar extasiado; perplexo de ver o quanto dali já se foi!

Com certeza a Associação Comercial o chamará a atenção apenas para o revestimento da calçada, hoje menos escorregadia, maior segurança, mas sem os detalhes do antigo piso.

Ao olhar em frente talvez queira recorrer ao Banco do Brasil e, entrará no Fórum para responder quem a um processo. Processo por não encontrar balcão com a bateria de caixas para atendê-lo e ao reclamar crie um mal-estar e, por isso venha a ser punido. Sem perjúrio ou ofensa ao Tribunal de Justiça de Penedo, nem a quem o faz.

Declinando o seu olhar sobre o mesmo lado do Banco do Brasil, encontrará o único prédio com a mesma finalidade do antes: a Biblioteca Pública; educação sempre continua a mesma na estrutura física.

Ao se voltar para o lado da Associação Comercial verá que o Dr. Oceano Carleal já morreu e, por isso seu consultório já não mais existe.

E, procurar o Cartório do Chico – ou Chico do cartório – também perderá seu precioso tempo; o cartório jaz, enquanto Chico continua lépido e fagueiro por todas as manhãs agora passeando por entre amigos lhes dando lições de vida.

E com certeza ao continuar o passeio pelo mesmo lado exclamará: oh, onde está a Pousada do Bida?  Também já se foi não restando sequer as camas para um descanso da caminhada no tempo.

Mas, e para fazer um lanche na Qui’Lanche nem isso tenho direito? Não senhor! Nem o Beto nem a Qui’Lanche vivem mais por aqui...

Vira-se então para o lado fronteiriço e enche os olhos de lágrimas e diz: Os Correios; enfim algo que ainda existe dos meus tempos de menino, e ouvirá a pequena observação. Senhor, o prédio é aí mesmo, mas neste momento eles estão greve por melhores salários.  Luta merecida meu caro jovem. No entanto, em nosso tempo isso não existia.

Já que estou cansado desta viagem no tempo será que poderia levar-me ao Bar do Adão? Preciso tomar um Guaraná champanhe Antárctica e, depois seguir o passeio passando pelas Casas Gecunhas, de onde atravessarei a rua para encontrar meu amigo Arivaldo Lopes na Farmácia Ramalho. E, ouvirá mais uma vez: senhor, todos esses pontos comerciais já não existem mais! Desse tempo apenas o Nôzinho taxista já não está mais entre nós, descansa em paz no cemitério São Gonçalo do Amarante.

Então exclamará: ah! Então me leve ao outro lado da rua para falar com seu Zé Silva que mora no andar de cima da pizzaria do seu Valdomiro. Amigo(a) ali hoje é a Tamires Lingerie; uma loja especializada em artigos finos e de qualidade. 

Espere aí argumentará o feliz penedense vencido pelo tempo. Feliz por ainda está vivo; penedense vencido pelo tempo por não encontrar mais nada do tempo em que conviveu por aqui.

E continuando a caminhada irá então procurar o Magazine Caribe para visitar Vagna Lerner, suas atendentes e depois dar uma entrada no Bar do Pelé para tomar uma água legítima do Penedo. E mais uma vez será contrariado com a observação. Companheiro essa loja e o abr a que se refere fecharam há mais de vinte anos. Há quanto tempo mesmo não vens a Penedo? Sabe meu caro; já nem me lembro mais. Acho que parei na cidade errada.

Não senhor, aqui é Penedo!

Mas como se já estou com medo de perguntar pela Farmácia Penedo do Dr. Alcides, as Casas Pernambucanas, a Sorveteria do Seu Ulisses, e não acredito que também não mais exista a Toca do Bolinha. E ouvirá mais uma vez; senhor, todos esses pontos comerciais fecharam! Como também a Loja A Gonçalves, o Nestor Maínha e o Banco do Estado da Bahia.

Então me leve para o outro da rua e deixe-me conversar com a minha amiga Mirtes da Loja Lisboa. Mas como! A Loja Lisboa também fechou e, o restaurante que abriu em seu lugar também fechou. Tá vendo o Mercado Público? Sim! Claro que sim. Pois é. Também está fechado em reforma. 

Como é? Até o Mercado Público está fechado?! Sim senhor. Mas foi para não cair em cima das pessoas! E o senhor então pergunta: e o Leon e sua irmã Arlene, que seguiram os passos de Dona Cândida. Não me diga que também fecharam as suas portas? Sim e não! O Leon foi para Coruripe onde se mantém comerciante. A Arlene ocupou o espaço da Loja Casas Almeida, com novos vizinhos no Mercado Público.

E como penúltima pergunta, o senhor então pergunta: meu filho em Penedo ainda tem Caixa Econômica? E o acompanhante responde: tem sim! Mas agora aqui perto da Igreja do São Gonçalo Garcia a quem devemos essa existência! Pois antes era na esquina onde hoje é Tamires Lingerie. 

E intrigado com tanta mudança o senhor então faz a última pergunta: meu filho e o Cabaré ainda existe? Agora o senhor me fez uma pergunta que posso responder que sim e no mesmo lugar. Só que ao invés de vender sexo, agora vende Crack. E o velho visitante sem muito entendimento completa: então é por isso que o Penedense foi vice-campeão da segunda divisão!!!

Creditos: Raul Rodrigues